(Para Fidel Castro, um menino de corpo cansado)
Chove púrpura, vermelho, encarnado.
Encharcado o povo dança na chuva,
em frenesi de gado fora da porteira,
inundando o mundo e os dias mornos,
em cânticos jamais ouvidos, feitos
de fé no futuro, certeza de avanços.
O menino que mitigava pão sorri,
o velho de bengala na mão acena,
a moça na janela desfralda o lenço,
mesmo os pássaros parecem entender
que mais solares e iluminados os dias,
tecendo-se no trabalho coletivo
produzindo frutos compartilhados.
Mesmo o bom burguês, de gravata
óculos importado e relógio de ouro,
confraterniza o livrar-se do fardo
que o amesquinhava e fazia menor,
o burguês empedernido, juramentado,
afogando-se com o seu iate, a mansão,
o efêmero poder que comprou
com moedas que mais nada valem,
porque cunhadas no trabalho alheio.
O que era liturgia é agora ordem do dia,
com os anseios transplantados da utopia
para os calendários, os dicionários,
onde possa se ostentar a palavra liberdade,
deusa proibida, travestida de impossível.
Ceifam o joio e as ervas daninhas
as foices manuseadas pelos lúcidos.
Forjam dias novos os martelos,
submetendo o mais duro metal,
o egoísmo, a bela forma, nova e final.
Sorridente, absolutamente compenetrado,
Deus comenta com um anjo distraído:
meus meninos, finalmente, criaram juízo.
Francisco Costa
Rio, 29/01/2015.
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