domingo, 5 de abril de 2015

SOLILÓQUIO

Taquicárdica presa das emoções,
ouço-me inquietude na madrugada,
remoeres de indagações,
secretas respostas que não me dou.

Passiva ferramenta de ímpetos,
vontades exageradas, quereres,
reduzo-me, antagônico de mim,
ao que queria ser e não sou.

Eu não sou esse que vocifera
urgentes exigências,
provimentos imediatos,
mudanças radicais.

Sou aquele que colore estrelas
e se encanta com insetos,
guardando a carícia exata
para o corpo que virá à noite,
solícito à linguagem da carne.

Eu não sou esse que mal sorri,
entretido com combates,
fazendo escaramuças,
em ataques permanentes.

Sou o que coleciona borboletas
e se enternece com sorrisos,
o que apascenta nuvens e ventos,
ovelhas imaginárias por aí,
contabilizando amanheceres.

E assim, evolo-me contradições,
ambições abortadas, desejos
que desfio em versos, em poemas,
anunciando esse que não me queria,
em vã tentativa de ser o outro,
para, sendo o outro,
lastimar-se por não ser este que sou.

Francisco Costa
Rio, 04/04/2015.

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