domingo, 5 de abril de 2015

PERDÃO, NASSIF

Perdoe-nos, Nassif,
por termos lhe roubado a infância,
obrigando-o a trocas despropositadas,
como a dos jipes e tanques no tapete da sala,
de plástico e sonhos manipulados por você,
por blindados de verdade no seu jardim,
atropelando as flores e o seu sorriso,
atirando no seu pai ensanguentado,
em irreversível despedida.

Perdoe-nos pela sua escola escombros,
pela sua namorada de útero inválido,
ressecado na miséria, extirpado no medo.

Perdoe-nos pela adolescência obsoleta
porque sem bailes e sem namoros,
bélica, em prontidão de não morrer,
reduzida a evitar tocaias e fugir de tiros.

Perdoe-nos pelas lágrimas impostas
e os gritos incontidos,
por lhe ensinarmos o ódio
e cultuarmos a discriminação.

Perdoe-nos por termos Deuses diferentes,
embora de mesmos atributos
e mesmos propósitos,
criadores da mesmas coisas,
sem que nós ou você Os conheçamos,
como crianças com a infantil pretensão
de saber o que pensa e o que faz o pai.

Perdoe-nos pelos seus amigos amputados,
pelas mutilações semeadas, pelas mortes
diuturnas e cotidianas que o assolam,
transformando o seu país em cemitério,
onde, entre catacumbas você caminha,
esperando a esperança, olhando o vazio.

E não pense em fugir de onde você está
porque os nossos punhais afiados
o estarão esperando em qualquer lugar.

Perdão, Nassif, perdão.

Francisco Costa
Rio, 09/01/2015

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