(Ouvindo Mozart)
Quer-se poema o que não cabe na foto
e pouco se basta na realidade dos dias,
sucessão de aleatórias possibilidades.
Não se pode sustentabilidade de fatos
os cordões gastos que nos atrelam
e impedem passos, reduzem a estático.
Há, entre as primaveras e os temporais,
o que não se define porque impróprio,
só rabiscos que se pretendem palavras.
Há sinfonias inaudíveis, mortos vivos,
cores imperceptíveis, vontades vadias,
suposições reduzidas a mistérios.
Há a necessidade de prover a vida,
permitir os trâmites do que desgasta
e envelhece, seca sorrisos e hormônios.
Há os outros, parcimônia e carência aqui,
fartura e ausência de comedimento lá,
alheamento e indiferença acolá.
Há corpos opostos, complementos
porque encaixes perfeitos, exatos,
em obrigatoriedade de busca e encontros.
Há torrenciais desejos nascidos em vão,
ambições malogradas, estenderes de mãos
para pegar o nada, tesões insatisfeitos.
Há o desconhecido, imune às equações,
às leis e postulados, intangível e longe,
pústulas na curiosidade que nos desafia.
E é justo nesses hás que mora a poesia,
esse dar-se de não se sabe o que,
proporcionando realizações e sofrimentos,
ornamentando poemas e momentos.
Francisco Costa
Rio, 21/01/2015.
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