(Aos companheiros que acreditam, e resistem)
Eita, Brasilzão,
Que vai do litoral ao sertão,
Que não é mais burguês nem português,
Menos inglês ou ianque porque belo,
Verdamarelo, cor de folha e flor.
Terra de proletários, operários,
Lavradores lavrados em dores,
Da mulata de bunda arrebitada
E dos sons da bicharada na mata,
Ora árida, tostada em pré queimada,
Ora tropical, majestosa e imperial,
Fazendo a hematose do mundo.
Terra sofrida, cicatriz e ferida
De hemoptíases e ascaridíases,
Da brucelose e da tuberculose
Organizando filas em hospitais,
Sinfonias de gemidos, de uis e ais.
Brasil corrupto, do escorbuto,
Da puta e do puto, da prostituta,
De um povo que labuta, se dá na luta,
Armado de marmita e disposição,
Com alma de poeta, olhar de esteta
E ferramentas na mão.
Terra do acarajé e do churrasco,
Onde me arrebento e me lasco
Sem damasco, mas com coco e manga,
Jabuticaba e mangaba, caqui e abacaxi.
Rincão do tucupi e do tacacá, do abaeté,
Da tracajá, da anta e do jacaré.
Musical solfejo de sanfonas e zabumbas,
De surdos e tamborins, dos jasmins,
Dos ipês, embaúbas e carnaúbas.
País dos pinheirais e dos generais,
Do seringais e marginais,
Tudo junto e misturado,
A puritana e o tarado,
O pai de santo e o cristão desarvorado,
Do amém, do saravá e do evoé, baco.
Da maconha, do álcool e do tabaco.
Brasil debochado, escrachado,
Do foda-se e da puta que pariu,
Da pegadinha e do primeiro de abril,
Do drible mágico de Garrincha
Dos gols de Pelé, Zico e Neymar,
Do pincel, da brocha e da trincha
Espalhando cores a nunca acabar.
Brasil do repente e do cordel,
Do tenente e do coronel,
Do vaqueiro e do guerrilheiro,
Da cigana e do sacana, da cana
E da gasolina, do Apesar de Você
E da Carolina, da soja e do dendê.
Da suruba e da maçaranduba,
Da passeata e da procissão,
Da escola de samba, do bloco,
Do frevo, maracatu e do cordão,
Da congada, marcha e baião.
Brasil com rima ou sem rima,
O de baixo e o de cima,
Politizado ou alienado,
Rindo da própria desgraça,
Com torresmo e cachaça.
Brasil que se recusa a ser rês
Para ser a potência da vez,
Ex vítima de judas e gigolôs
Desde o tempo de avôs,
E que agora se vê no futuro,
Ultrapassando cerca e muro,
Querendo-se pra sempre,
Rompendo com o eternamente,
Como crisálida do casulo rompida,
Dando adeus aos tempos da morte
Porque encontrou o caminho da vida.
Brasil da putaria e da procissão,
Do ônibus escolar e do camburão,
Das loterias, da poesia, de azar e sorte.
De Padim Ciço Romão Batista
E de todo artista, de Caetano e Gil,
Gonzaga e Gonzaguinha, Edu e Tom,
Dos pampas e da caatinga, do cariri,
Do pantanal e das litorâneas praias
Com as moças de biquínis e minissaias,
Mais mostrando que escondendo,
Semeando o que por dentro vai ardendo.
Pais da organizada desorganização,
Da pirataria na banca do camelô
Ao discurso do político na eleição,
Da fraude, do roubo, da espoliação;
Da novela e da corruptela, da tigela
Da enjeitada na janela, da garotada
Empinando pipas, pandorgas e papagaios,
Da gude e do pião, da meinha no chão.
Brasil das festas e dos velórios,
Dos estádios e cemitérios,
Com esse jeito elegante de não ser sério,
De comemorar tudo com foguetórios,
Mostrando ao mundo triste e moribundo,
Que aqui neste recanto do mundo,
Ainda que uns contra, furibundos,
Só se nasce nesse louco país
Para cumprir o destino de ser feliz.
Francisco Costa
Rio, 28/03/2015.
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