Que fazer, senão só chorar,
atender às lágrimas escondidas
desde que pensei tudo solucionado?
Como não verter o pranto,
arregimentar a dor mais funda
e expô-la na vitrine da face?
Como digerir o golpe baixo
e esconder a faca, se sangra,
em atestado de ferimento aberto?
Choro a minha pátria chorosa,
em véspera de retalhe e venda,
nas mãos dos mesmos
que pensei extintos, dormindo
no leito do anonimato.
Mas eis que ressurgem incólumes,
prontos para dolo maior,
vender o motor do nosso veículo,
o coração do nosso organismo,
o petróleo sangue que nos anima
povo em franco progresso.
Eu te choro, Petrobras, musa
que se estampa em tudo,
nos postos de combustíveis
e nas revistas, na publicidade
e nos 85 mil empregos diretos,
nos mais de 350 mil indiretos,
quase que bandeira nacional
hasteada em nossas consciências,
tremulando no vento do orgulho.
Eu te choro porque em pedaços,
com o esqueleto esquartejado,
as vértebras dispersas:
plataformas e balsas, refinarias,
navios petroleiros, portos,
toda a tecnologia de ponta,
amealhada em décadas, a mercê
dos vermes da putrefação
refestelando-se no teu cadáver.
Eu te choro, parte de mim
prestes à amputação,
mutilando-me, irreversível.
Eu me choro, Petrobras,
pela minha impotência,
por, sozinho,
não poder fazer nada,
senão só chorar.
Francisco Costa
Rio, 06/01/2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário