(Pra Juliana, minha neta)
Paraíso que só a si se iguala,
aqui habitam os citadinos,
e os da roça, os caiçaras,
em convívio e comunhão,
como se corpo único e total,
esparramado entre o sertão,
e o litoral, nos descampados
e pampas, nas caatingas
e restingas, em Brasília,
em cada ilha, nos recôncavos
e nas florestas de araras,
papagaios, gaviões e mochos,
entre floradas multicores
de manacás e ipês roxos.
Pacíficos e sem cobranças,
aqui se amasiam os iates
e as canoas, adultos e crianças,
os carrões e a carroça,
o latifúndio e a roça, as mansões
e os casebres, as raposas e as lebres,
as bandeiras brancas e os canhões,
os civis e os batalhões,
em atestado que sangue só nas veias,
embora nos queiram em contrário.
Sim, há os que nos querem por peias,
os que estão no nosso avesso,
em antítese do que somos:
um país de ladrões e salafrários,
de especuladores e estelionatários,
oposto a este que a si se ostenta,
fisgando peixes ou deitando a safra,
erguendo imóveis, em tratores,
colheitadeiras e automóveis.
Exportando bens e valores,
este é um país hidratado em suor,
que se faz novo nas mãos do povo,
em cada máquina e cada colheita,
no trabalho diuturno e persistente,
arregimentando toda a gente.
Mas eis que súbito surge o clarim,
em prévio aviso do tudo permitido,
e todos, o declarado e o escondido,
o até ontem santo e o depravado,
o de mãos calejadas e pés desnudos,
os de pompas e anéis dourados
se misturam em cordões e em entrudos,
blocos, escolas de samba, tudo bamba,
fazendo da alegria coisa normal,
numa retalhada e colorida colcha
chamada carnaval.
Francisco Costa
Rio, 17/02/2015.
*Escrevi este poema na terça feira de carnaval, em plena folga, distante da realidade, numa paradisíaca reserva ecológica. Ele bem dá a ideia da amistosidade do nosso povo, uma amistosidade que está sendo desconstruída por cães raivosos, liderados pela mídia, a serviço de interesses escusos. Dediquei-o à minha neta, que estava próxima de mim, no momento em que escrevi, e que também gosta de escrever.
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