domingo, 5 de abril de 2015

ODE AOS PANCADAS
(E todo poeta é um pancada)

Maluco, nem beleza nem furioso,
maluco em toda a sua grandeza,
farejando tudo, muito curioso.

O que se enternece e ri com filhotes
de todos os bichos, até dos humanos,
e cultiva palavras nos canteiros papel.

O que porta flores e bilhetinhos,
atento às moças que passam
e aos passarinhos nas árvores,
na fiação elétrica, nos poemas
que se consolidam loucuras.

Maluco sim, doidivanas, treco,
alienado, vinte e dois de plantão,
totem que se ostenta na praça
dos três prazeres, nas quaresmas
suburbanas de cadáveres e tiros,
no carnaval dos comícios e greves.

Maluco total, o que se ri do pânico
e chora meladas lágrimas na fome,
na dramaturgia das carências
postas peças constantes no palco,
mais que palco, da coxia à plateia,
irmanando famintos e cúmplices.

Louco, complemente despirocado
ziguezaguEando no trânsito,
no tráfego dos satisfeitos,
no tráfico dos suicidas sorrindo
em holocausto às moedas.

Tantã, zureta em piruetas e risos
para manter-se vivo, anunciando
solares verdades em dias claros,
inundando de cores e travessuras
os sérios, imunes às loucuras
que colorem o hiato rápido e curto
entre o nada antes de nascer
e o nada depois de morrer.

Pancada, conde, doido varrido
em peripécias e malabarismos
para se fazer entendido,
não mais que o grito de liberdade
que os insanos mantêm escondido.

Francisco Costa
Rio, 21/01/2015.

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