sábado, 4 de janeiro de 2014

RÉQUIEM PARA UM TORTURADOR

Eu me deliciava, vendo aqueles corpos
Em farrapos, frangalhos, clamando
Piedade na convulsão dos choques.

Dava gosto vê-los nus, desprovidos
De roupas e dignidade, desfazendo-se
Em merda, mijo, lágrimas e vômito,
Já não senhores de si, mas parte de mim
Enojado diante da fragilidade dos fracos.

As mulheres... Ah, as mulheres peladas,
Algumas gostosas, em pose de pré cópula,
Como frangos na assadeira, e as comíamos
Com prazer multiplicado por ver o asco
E o desespero, sentindo-se nosso penico.

E as execuções com balas de festim,
Só pólvora, sem projéteis,
Para que experimentassem o medo
Da hora última, final, derradeira.
E ríamos dos que oravam
E odiávamos os que gitavam ofensas,
Impropérios, palavras de ordem.

Nunca questionei dos motivos da dor,
Meu compromisso não era com a justiça,
Mas com o meu prazer pessoal
Submetendo o que se supunha forte.

Agora envelheço entre peidos e dores,
Hemorróidas, e já não ouço: oficial!
Dependendo de uma negra bunduda
Para me dar as colheradas de sopa e papa,
Ocasionalmente indo à internet, para ler
Que descobriram tudo e agora me execram,
Exigindo julgamento e punição, cobrança
Pelo meu cumprimento do dever.

Perdão, sou só um verme
Que outros vermes estão prontos
Para comer.

Francisco Costa

Rio, 02/01/2014.

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