sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

DIANTE DO MAR

Assim, parado diante do mar,
Verde que se estende até o horizonte,
Observo a monotonia dos seus movimentos,
Sempre os mesmos, repetição constante,
E imagino a vida em andamento, do outro lado.

Imagino bêbados caminhando em ruas ermas,
Iluminadas pelas lâmpadas pálidas dos postes,
Meninos agarrados a sorrisos e curiosidade,
Mulheres na faina de lavar roupas e varrer o chão.

Imagino os executivos e suas gravatas, bravatas
Justificando o último negócio levado a bom termo,
Cabras e vacas ruminando a solidão do tempo,
Soldados em ordens unidas ou nos stands de tiros,
Ensaiando o desempenho na tragédia da morte.

Vejo floreiras nas janelas, talheres sobre as mesas,
Cães latindo cheiros, cortinas na dança do vento,
Toda a coadjuvância que compõe o ritual das horas.

Súbito lembro-me de ti, idealização consumada,
Levantando-se da cama, meio que dormindo ainda,
Restabelecendo o contato com a realidade,
Pronta para a higiene matinal e o café com pão.

E triste, abandono o mar. Dou meia volta e retorno.
O mar não me acompanha, permanece a teus pés,
Em simbolismo de minhas lágrimas banhando-te toda.

Francisco Costa

Rio, 19/01/2014.

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