E se faz rascunho do que virá.
Minha pátria se desenha geométrica
Em curvas que oscilam concretas
Nos monumentos de Niemayer,
E saltam em forma de meninos pobres
Saídos da infância pobre de Brodosky
Para as telas de Cândido Portinari.
Minha pátria se canta em versos secos,
Com rimas pobres de poeira e sede,
Nas penas secas de Patativa do Assaré,
Na viola de cego Aderaldo, no cantador
Da feira e do cordel, dos rimadores
Que fixam as nossas dores no papel.
Minha pátria tem trilha sonora que ecoa
Das cascatas da Serra do Mar e escorre
Para pantanais, pampas, Amazônia...
E vem sorrir nas partituras de encanto
De Villa Lobos, Pixinguinha e Tom Jobim.
Minha pátria tem macumba, maracatu,
Jongo, capoeira, samba e maculelê.
Tem berimbau, pandeiro e atabaque,
Livros sacros e fanáticos, catequistas
E adoradores de púlpitos e altares.
Minha pátria se masturba nas praias,
Em coito com água, areia e sol,
Percorrendo relevos no horizonte,
Escondendo o pudor nas nuvens.
Minha pátria veste tanga, veste terno
Ou não veste nada, em ostentação nua
Do que orienta e inspira, transpira
Sensualidade caminhando na rua.
Minha pátria soletra futuro e espera,
Sabendo exatamente o que quer,
Uma safra de sorrisos e saciedade
Que se semeia hoje nos corações
Ornamentados de verde e amarelo.
Esta é a minha pátria, convergência
De coisas comuns, coletivas, de todos,
Em silêncios domésticos, interiores,
Ou na algazarra das ruas e estádios.
Mas há uma outra pátria, estranha,
Que não é a minha porque de poucos.
Ela se ostenta nos jornais e na tevê,
Se esconde nos palácios e mansões,
Alheia, só recrutando a minha pátria
Quando necessária e subalterna,
Mero objeto de usufruto e fortuna.
Lá na outra pátria falam estrangeiro
E deglutem a frustração equivocada
De serem chamados de brasileiros.
Meu coração habita na minha pátria,
Já os meus punhos e a minha voz,
Exilados no exercício da revolta
Exigem a reunificação urgente
Dos que em mim choram
E dos que em mim esperam
Porque todos uma só gente.
Francisco Costa
Rio, 26/05/2014.
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