Súbito um país inteiro se uniformiza,
Calça chuteiras e parte para o front.
As diferenças se reduzem, se anulam,
E o menino magrinho, saco de ossos,
Se inaugura herói imprescindível,
Abandona o lixão e o abandono,
Em agitada expectativa de vitória,
E escala as arquibancadas dos sorrisos.
O burguês de gravata e artimanhas
Se despe das moedas e das ambições,
Interrompe a assinatura num cheque,
Ousa a concessão de ser igual,
Em agitada expectativa de vitória,
E escala as arquibancadas dos sorrisos.
Nas ruas, vielas e becos suburbanos
Interrompe-se a leitura de versículos,
Adia-se o michê da prostituta distraída,
Esvaziam-se vendas e supermercados
Em agitada expectativa de vitória,
E escalam as arquibancadas dos sorrisos.
Calam os discursos os das passeatas,
O tribuno, o senador, o magistrado,
Porque oposição e situação unidas
Em propósito único e consensual:
Cada um permanecer a todos igual,
Em agitada expectativa de vitória,
Escalando as arquibancadas dos sorrisos.
Poemas permanecem inacabados;
Canções, caladas no meio do acorde,
Restando só imagens congeladas:
A do saque do tenista,
Do voo do pássaro,
Das ondas imobilizadas nas marés,
Do sol circunavegando o espaço,
Do preciso passo da bailarina
Em agitada expectativa de vitória,
Escalando as arquibancadas dos sorrisos.
Entre o gol e o grito, um país se debruça
Sobre si mesmo e se descobre capaz
De permanecer em Copa pra sempre,
Fazendo-se um só e de toda a gente.
Francisco Costa
Rio, 26/05/2014.
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