Deito-me, barriga para cima,
Em ansiedade de menino
Diante do primeiro corpo nu.
As imagens vão se sucedendo,
Aleatórias, sem ligações,
Em cortes atemporais,
Alternando sonho e pesadelo,
Em mosaico disparatado,
De cacos ao acaso.
Já não sou eu o que me observa,
Mas um estranho, um forasteiro
Em trânsito na minha memória,
Farejando a minha existência.
Alterno-me em orgulho e vergonha,
Sem ter como omitir momentos,
Esconder atos, mostrar fatos,
Passivo e impotente,
Ora anjo, ora delinquente,
Desfiando o rosário das realizações.
Despido de mim mesmo, distante,
Apartado do que me é familiar,
Estou a sós com a minha consciência,
Diante da qual nada é confidência.
Não tenho justificativas ou desculpas,
Argumentos, senão a mea culpa,
Em antecipação de sentença
Condenatória: junto com as flores
Plantei espinhos e erva daninha.
A vida que pensei grande e rica
Foi medíocre, miudinha.
Francisco Costa
Rio, 05/06/2014.
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