Feito de silêncios e apreensão,
Como se nada antes tivesse existido
E o depois fosse uma impossibilidade.
Falaram-me de muitos deuses
E potestades menores, ocupados,
Em vigília sobre mim, observando
Cada intenção e gesto, cada ato e fato,
No exercício de me servir.
Alheio a todos e a cada um, prossegui,
Desatento e distraído, em veredas várias,
As que me foram permitidas e as proibidas.
Vivi sem intervalos, sem pausas e paradas,
Porque mesmo quando dormia, recolhia
Matéria para a construção de novos dias,
Sem nunca ter entendido devidamente
O limite exato da realidade e da poesia.
Entre o concreto que me alimentou o tato
E o abstrato, meu pão de cada dia,
Não fiz diferença entre o luto e a orgia,
Misturando tudo no caldeirão da utopia.
Por isso essa existência breve, efêmera,
Só insinuada, sem tempo de aprendizado,
Como se a de um pássaro em voo ligeiro
Sem que ninguém tivesse observado.
Ficarão versos, desenhos diversos,
Filhos e as muitas flores que plantei,
Algumas em floreiras e no jardim,
Mas a maioria delas dentro de mim.
Por isso esse meu jeito franco e aberto.
Mesmo na pior tempestade
Há esperança quando há flor por perto.
Francisco Costa
Rio, 26/05/2014.
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