Então achas que estou soturno,
Sorumbático, sem prazeres
Capazes de me reatar ao mundo.
Pois te digo que não, nem um pouco.
Há ainda em mim colorido e viço,
Vontade de permanecer e avançar,
Ainda que pagando frete exorbitante,
O de debulhar dores e despetalar ócio.
Feito para a mobilidade permanente
E permanente entrega ao que fazer,
Estranho-me apatia em exercício,
Com pouca capacidade de influir,
Como um nadador de piscinas vazias.
Restam os livros e discos, é verdade,
As ideias alheias e os sentires de outros,
E se isto não me basta, conforta.
Antes, nos livros eu me municiava,
Esperando combates diários,
Batalhas constantes,
Guerras permanentes.
Agora, nesse armistício compulsório,
Só leio a paz que nunca veio.
Por isso esse meu ar tristonho.
Talvez eu venha a descobrir
Que despertei de um sonho,
Sem a menor possibilidade
De voltar a dormir.
Francisco Costa
Rio, 02/06/2014.
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