Estranho
esse teu salvaguardar de intenções,
De deixar
para depois o que se pede urgente,
Sacrificar a
porção mais fundamental e precisa.
Em ti fervem
hormônios que disfarças, escondes,
Como se
possível conter o calor e desconhecer
O que lacera
e incomoda, umedece as entranhas
Como vocação
amordaçada, burka no necessário.
És mulher,
como tantas e todas as outras, carne
Em sedição
de sevícias consentidas, surpresas,
Admoestação
de dentes trincados e arrepios,
Contorções e
estertores, palavras gemidas,
Mansietude
de gazela dormindo depois, após.
A cada vez
que dizes não não é a alguém que te negas,
Mas a ti
mesma só e encolhida, curiosa, com fome,
Mas sabedora
de banquetes possíveis e ao alcance,
Para mais
doer. O puritanismo é a máscara do sentir,
A fantasia
de um anti carnaval feito de silêncios,
De
imobilidade que não desfila, de passistas mortos.
Como então
existir em plenitude se escondendo
No biombo
das orações e dos poemas, dos disfarces,
Das mentiras
que dizemos a nós mesmos, na inútil
Esperança de
despertar inocência no que já se fez adulto?
Só um
sentimento te habita, a autocomiseração,
Aquela
sensação de pedaço apartado, amputado,
E que agora
habita em outro corpo exigindo o encontro.
Teu espelho
te reflete, não te completa, porque nele
Aparece só a
parte que chora, as lágrimas constantes
Que fugiram
dos olhos e em outra parte te umedece.
Há que secar
o pranto, mas como, se do lenço foges?
Flores que
se recusam a desabrochar morrerão botão,
Só uma
vontade de sim na insistência do não.
Francisco
Costa
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