segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Súbito, surpreendo-me com minha anatomia,
Com esse metabolismo louco, desvairado,
Exigindo uma explicação: sou enorme.

Minhas artérias, que nascem no coração,
Não se bastam enclausuradas na pele,
E rompem  o meu corpo, ganhando o mundo.

Como serpentes vermelhas, de sangue e fogo,
Banham Copacabana, sensualidade na areia
Invadindo a minha imaginação, meus versos.

Sobem morros e amamentam a indignação,
Partilham fome, carências, precisão...
Correm matas e se enternecem com a fauna,
Irmãos de corpos diferentes ilustrando
O altruísmo de Deus quando não nos quis sós.
A flora, exagero de um artista sublime,
De inspiração infinita e de infinita técnica.

E vão à Brasília, contaminando-me de lixo,
Envergonhadas, sujas com os miasmas podres
Da desonestidade, das propinas, da impunidade
Lançando cortinas de fumaça sobre o povo.

Chegam ao nordeste e têm sede, angústia
De água perto separada por uma cerca,
Apartando gente e o gado dos coronéis.
Sujam-se de lama e caranguejos, de sal e sol,
Inclementes nos litorais azuis de sonhos.

Vão ao sul e quase encontram a Europa,
Seus sotaques e folclore, seus modismos
De quase estrangeiros culturais partilhando
O mesmo coração de clorofila e ouro.

Depois retornam ao meu peito, para mostrar
Que sou só um pontinho quase anônimo
Na imensidão mágica do meu país.

Francisco Costa

Rio, 30/12/2013.

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