(No
shopping)
Amanheci
entre o pranto
Que me chega
em maré cheia,
Povoada de
berinjelas e bagres
E sorrisos
de prender o sol.
Vi Jesus no
shopping, faceiro,
Em peleja
aberta e pública,
Munido de
embrulhos e troco,
Um comunista
na cruz e renas,
Muitas renas
em palmas de bis,
Papai noel
montado num jegue,
Entre bundas
e rebolados
Coreografando
corredores.
Iscariotes
estrangulado e bêbado,
Agonizando
na vitrine de criptonita
Embalado em
tísicas pretensões.
Aleluias e
evoés, améns e gritos
Conspirando
ataques de Phantons
E armadilhas
de alpiste palavras
Aguardando
jacarés com mandatos,
Atentos à
programação na tevê.
Redivivo em
meus anseios, eu vi
O apocalipse
espalhando dragões,
Semeando
pânico amordaçado
E sexo
ostentando-se nuvens,
Plumas no vento,
véus errantes
No aguardo
de qualquer porto
Seguro ou de
castiçais quebrados.
Eu vi o gado
contido em paredes
E o estouro
da boiada flutuando
Entre
etiquetas e promoções,
Profusão de
gols e o drible exato
Entornando
sangue e fera fúria
Nas arquibancadas
de concreto,
Sólido e
duro como corações.
Vi papas e
pastores, monges...
Todos os
nossos condutores.
Cultos,
missas, rituais, oferendas
Aos pés do
totem de madeira
Com pés de
barro e alma de ouro
Clamando
clemência e calma:
Tem muita
mercadoria,
Vai dar pra
todo mundo!
Não bebi nem
cheirei coca,
Eu juro. Só
fui ao natal!
Francisco
Costa
Rio,
23/12/2013.
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