sábado, 21 de dezembro de 2013

ENCONTROS

Distraído, caminhando na esquina
Encontro um poema. Já vem pronto,
Cheio de embrulhos e sacolas,
Em tamanhos diversos, coloridos.

Cumprimento-o, concentrado,
Pronto à fixação no papel,
Para posterior ostentação na tela.

Vem cansado, depois de percorridas
Todas as lojas e magazines, tendas
E barraquinhas de ambulantes,
À cata do que fazer sorrir e encantar.

Mal me responde, suado e apressado,
Prosseguindo no seu ritmo natalino
De chegar logo e rápido, urgente.

Mais adiante outro poema,
E o mesmo ritual do cumprimento,
Da atenção de como chega
E o que pretende, comigo atento,
Caneta em riste e sentidos ligados.

Este não traz embrulhos nem nada,
Só a roupa suja, cabelos desgrenhados
E o olhar de quem está longe, alheio,
Esperando o improvável e o proibido.

Cumprimento-o e ele me estica a mão,
Mas de forma inversa, concha pro céu,
E não para a apertar a minha. Entendo.

Partilho coisa pouca, o que me sobra,
Mas o bastante para anunciar sorrisos.

Continuo a caminhar, desacreditando
Na existência de um único natal,
Constatando que existem tantos
Quantos são os homens, essas
Carências que esperam, moedas, uns,
Motivos que custam moedas, outros.

E começo a redigir os encontros.

Francisco Costa

Rio, 18/12/2013.

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