O poeta das
coisas simples aniversaria,
Conta 97
anos de existência carnal,
Esse
desatino de prover o material
Com a
abstração dos sentimentos.
Poderia
estar contando 15 ou 150
Porque a
poesia não conhece números,
Inacessível
aos teoremas e equações,
Aliás até
mesmo às palavras, essas iscas
De capturar
o que se esconde no homem.
97 anos
descrevendo o enigma de existir,
O estupor
diante da realidade, das horas
Que
transcorrem iguais, matemáticas,
Com a frieza
das pedras no inverno.
Aos poetas
não basta contar tempo,
Contabilizar
momentos, somar fatos.
Há que
descobrir o que há por trás da luz
E porque se
movem os astros e os dias
E nenhuma
língua humana se presta
Para
descrever o inumano, o que paira
Sobre a
solidão dos séculos e o silêncio.
Então,
médiuns da eternidade, bruxos
Em
atividade, surgem os de língua outra,
A dos anjos,
traduzindo o que só se pode
Entrevisto
de soslaio e rápido, fugaz
Como a vida
dos homens em existência.
São os
poetas. E quando um aniversaria
Contam que
até as estrelas confabulam
O que não
pode ser dito, mas só sentido.
Parabéns, Manoel
de Barros.
Poemas te
aplaudem, a poesia te basta
Porque os
anjos te elegeram
Entre os
poetas encarnados
O maior de
nós.
Francisco
Costa
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