(conversa de
pai e filho)
Sabe, filho,
a exatos quarenta e cinco anos,
Em dia
nublado e triste, como hoje,
Homens maus
decretaram o luto da pátria.
Saídos de
porões sombrios, úmidos, frios,
E
incomodados com a luz do sol e as cores,
Estranhas
para eles, resolveram apagar.
Sentaram-se
e redigiram um édito de nãos,
Banindo os
gnomos que traziam sorrisos
E as fadas
que semeavam esperanças.
Colocaram
cadeados nos portões,
Zíperes nas
bocas, erigindo a delação,
A tortura, a
morte e a prisão
Como contas
de estranho rosário,
Soletrado em
babas de medo
E com a
dicção do ódio.
Nomearam
interventores na felicidade
E
sindicantes no que se pode realização,
Cuidando de
apagar poemas e crônicas,
Queimar
telas, relegar a segundo plano
Qualquer coisa
que cheirasse a pensamento.
Pensavam-se
eternos, definitivos, pra sempre,
E em nome
disso semearam o caos,
Uivos
proferidos em sangue,
E amargores
nas madrugadas vazias,
Descrentes
de possíveis amanheceres.
Mas se
foram, e hoje apodrecem
Em
cemitérios, memórias e livros,
Tornando-se
húmus, esterco, adubo
Para
sementes que agora germinam,
Trazendo a
luz do sol e as cores.
O nome
desses homens maus não ouso dizer,
Meu filho,
devem permanecer mortos,
Repousando a
ignomínia no silêncio do alheio,
Só
ocasionalmente sendo citados como opróbrio,
Vergonha,
mau exemplos de seres covardes
Dedilhando
nas teclas do sofrimento.
Hoje,
exatamente hoje, execramos
O dia em que
a lisura da história
Conheceu uma
dobra, um vinco,
E o inferno,
maléfico e cruel, pariu
O ato
institucional número cinco.
Francisco
Costa
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