sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

COISA MINHA

Eu, que nasci para o carro de boi
E a as sinuosas estradas de barro,
Com pássaros e galos nas manhãs,
Fogão de lenha e causos e violas.

Eu, de raíz na roça e tronco no chão,
De missa no domingo, confissão,
O da cachaça com torresmo e forró,
Aboio nas tardes, pescarias no rio.

Eu, de família simples e descalça,
Entre bençãos de tias e colos de vós,
Entre aniversários e natais, feriados,
De material escolar pouco nas mãos
E muita vontade, curioso das coisas,

De repente me vi em livros e discos,
Conferindo documentos, desenhando
Os meus próprios passos no asfalto,
Percorrendo galerias, ruas, museus,
Ocupando bancos na universidade,
Lendo teoremas e leis e postulados,
Dando nomes científicos aos bichos,
Dissecando a anatomia das plantas,
Sofisticando versos, ouvindo sinfonias.

Eu, de vulgar fofoqueiro doméstico
A envolvido com políticas e partidos,
Fofoqueiro maior, me imiscuindo
Na vida de todos, palpitando, exigindo.

Eu, um menino de roça e sorrisos
Afogado em civilização e pranto,
Só um gemidinho que se quis discurso
E agora chora, querendo descanso.

Francisco Costa

Rio, 03/12/2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário