sábado, 21 de dezembro de 2013

ECO MÍSTICO

Agora viajo no dorso do poema.
Não me perguntem dos seus mecanismos,
Em que tecnologia se apoia porque não sei.

Sei que é de mobilidade instantânea,
Deslocamento imperceptível,
Violando as mais elementares regras.

Em um mesmo segundo viajo continentes,
Amando aqui, sangrando ali,
Atento ao que se descortina novidade,
Entre guerras e armistícios, beijos e adeuses
Postos ora na relva macia, ora em areais
De silêncio e vento, pedras e madrigais.

Ocasionalmente penetro florestas,
Mares de sons escondidos em ondas verdes
E me sento sob frondes, em sombras,
No sol eclipsado, ausente do chão úmido,
Entupido de insetos e vermes, répteis
Descrentes da existência do sol.

E mergulho em maresia e sal, molhado,
Assistindo séquitos de anjos coloridos
Adejando no mundo líquido e quieto,
Com suas barbatanas de encontrar caminhos.

As vezes me sento nas beiras dos rios
E drogado de magia e encanto, assisto
A dança das cores flutuando sobre meus olhos,
Nas asas dos pássaros e dos insetos, borboletas,
Silêncios que reluzem atestados da existência
Tramitando na burocracia de Deus.

Tristes dos homens que esperam milagres
Inocentes de que habitam um milagre, e mais:
Que eles mesmos parte do milagre, cotidiano
E constante, repetindo-se sempre diferente
Sob o olhar do seu maestro nas estrelas,
Cuidando para que tudo permaneça
Um imenso poema de versos vivos,
Redigidos na dimensão dos pensamentos.

Francisco Costa

Rio, 15/12/2013.

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