sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

NA MADRUGADA

(Em auto protesto)

Enquanto a cidade dorme,
Hóspede de sonhos e pesadelos,
A vida corre nas esquinas,
Em provimento aos trâmites da vida:

O menino de shorts e sujeira
Se aninha na caixa de papelão,
Entre as estrelas e o chão.

O velho de bigodes e bengala
Sonha passado de combates
E corpos nus em floração de abril.

O policial revista o negro
Sem dentes e sem moedas,
Os carros passam, a noite passa,
E nos olhos atentos das putas,
No garimpo de clientes,
Entre cintas liga e canivetes,
Batom que grita e olhares tristes,
Lagrimas sucumbem em sevícias.

Os motéis estão de luzes apagadas
Ou a meia luz, indiscrição de abajur
Revelando penumbra o que é claro.

O lua brinca de esconde esconde,
Entre as nuvens e os morros
E miríades de estrelas contemplam
Os movimentos do mar, bailado
Do que nunca se fará quieto
Porque ouvinte de canção silenciosa.

Salteadores trabalham,
Frustrados conspiram,
Corruptos elaboram o plano infalível,
Semeando fome e indignação.

Beatos debulham a oração do dízimo,
Artistas preparam-se nos picadeiros,
Prontos às telas, poemas, canções...
Concentrados e discordantes.

Longe, escondidos da vida e da noite,
Imunes e apascentados, distraídos,
Uma multidão aliena-se no monitor,
Em guerras digitadas e sexo virtual,
Inocentes de que a vida não acabou.

Francisco Costa

Rio, 05/12/2013.

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