Rústico,
imune ao que incomoda,
O meu
coração amanheceu mole.
Hoje moro em
duas cidades,
Estranhas,
inversas, antagônicas.
Em uma o sol
brilha sempre,
Ainda que
com o céu nublado,
Derramando-se
líquido e denso
Sobre os
jardins e os telhados.
Ali espero a
chuva cessar e saio,
Cotidiano,
em provimento
À
continuidade da véspera.
Na outra
traço o recomeço
Depois de
cada temporal.
É como se
não houvesse ontem
E o século
se inaugurasse hoje,
A partir do
zero, desafiando-me
A procurar
roupa e sapatos,
Tirar
segunda via de documentos,
Redescobrir-me
ainda vivo,
Fora do
inventário das vítimas.
As duas
cidades estão apartadas,
Distantes,
embora vizinhas,
Limitadas
por muros de dinheiro.
Em uma me
moro proletário
No pasto das
necessidades,
Na outra,
protegido e enxuto,
Assisto os
da sobrevida
Fugindo da
enchente.
São duas as
cidades.
Uma, filha
do poder público,
É onde moram
os do Rio de Janeiro.
A outra,
enjeitada enteada do poder,
É onde
morrem nos rios de dezembro.
Se um dia
foram uma só e mesma,
Não sei, não
vi, não lembro.
Francisco
Costa
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