sexta-feira, 28 de março de 2014

REALISTA DEMAIS

Quero  escrever um poema erótico,
Preciso escrever um poema erótico,
Mas não um poema qualquer, inútil
Na pretensão de acordar instintos.

Quero um poema avassalador, total,
Umedecendo as moças desavisadas,
Pondo rijos os meninos desatentos.

Eu quero um poema sacana, imoral,
De vocabulário puro hormônios
E prazer desmedido, avassalador,
Capaz de arrancar gemidos e gritos
Nas entranhas do excitado leitor.

Eu quero um poema de sensualidade
Posta na mesa, no livro, no dia morno
Que mantém sonolentos e inúteis
Os instintos mais primários e urgentes,
Agora dormitando alheios, quentes.

Que o diga imoral a senhora pudica
De xavasca aposentada. Pornográfico,
O beato psicologicamente eunuco,
De pau supérfluo, incomodando.

Que exijam respeito os comentadores,
Administradores, leitores, curtidores...
Cinicamente guardando para logo mais
Esses doces pecados que, por inocentes
Já nascem perdoados. Eu quero sexo!

Poemas assexuados são jardins vazios,
De cor única, um verde frio, insosso,
Sem os matizes multicoloridos e doces
De doces orgasmos desbragados,
Essa incipiência constante e declarada
Fingindo-se escondida em cada tarada.

Não me venham com teorias literárias,
Tratados filosóficos, leis divinas...
Todos esses freios ao maior dos instintos:
Ter nas mãos a posse do outro, integral,
Em volúpia tanta e tão fundamental
Que tudo e qualquer coisa é só uma rima
Para a felicidade concentrada num instante,
Reduzida a uma xana, um pau.

Eu quero um poema sexuado, humano,
Encharcado de hormônios, animal.

Francisco Costa

Rio, 14/03/2014.

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