sábado, 8 de março de 2014

Parece que houve revolução
E o inimaginável se estampa
Em cores, formas, alegria
Escorrendo das casas e calçadas.

O moço que ontem seguia na rua,
Carregando botijões de gás,
Desesperanças e necessidades,
É hoje o príncipe da Algárvia,
O marquês do Turguistão,
Quiçá algum paxá de Molibelândia
Editando ordens imperiais.

A moça pudica e casta,
Virginal reserva de pudores,
Perdeu a roupa e rebola na avenida
Os seus dotes de donzela mal contida,
Semeando caraminholas em imaginações.

Emancipou-se a dona de casa e o machão
Em freudiano flagrante, de saia e sutiã,
Com a homofobia guardada na gaveta,
Os instintos presos no armário,
Querendo-se a rainha do pedaço.

O segurança, sem arma e sem autoridade,
Boquiaberto diante de frenéticas bundas,
Arregimentadas não se sabe onde, porque
No ano todo escondidas, mal percebidas,
Em escritórios, escolas, feiras, ambulatórios,
Discretas e comedidas, sem esse frenesi.

E o som, a marcha, o funk, o samba
Reduzindo a seriedade jornalística de ontem
A mote de piadas, implacáveis com o político
Que rouba, homenageado, de mãe a reboque,
As pobres, sem culpa de terem parido palhaços.

Este é o meu país, o do riso solto e franco,
Do sexo sem amarras, do político ridicularizado,
Das dores de férias e do infortúnio esquecido.

Evoé, Momo! O carnaval já começou!
Que se abram as porteiras da felicidade.

Francisco Costa

Rio, 28/02/2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário