sexta-feira, 28 de março de 2014

A Copa vem aí.
Eu desconfio
Porque o ar está leve,
Verdamarelo,
Em brisa morna
De paz estampada.

Sinto cheiro de gol,
De palavrões
Em lábios pouco afeitos
Aos impropérios da pátria,
Aquela população de onze
Em combates de chutes.

Aquele moço tirou a máscara,
O guerrilheiro se desarmou,
Os estudantes mataram aulas,
E a campanha eleitoral calou,
Está suspensa, sem partidos
Porque agora um país inteiro.

Sem revolução e sem tiros,
Sem reformas e sem leis,
As classes foram abolidas,
E nas ruas abraçam-se juntos
O mendigo e o burguês,
Por conta de mais um gol.

Se chove ou se ensolara tudo,
Que diferença ou prejuízo traz?
O importante é o impedimento,
A lateral, o tiro de canto, o gol,
Aquele balé de pernas e gestos
Coadjuvando a rainha, a bola.

Por um mês o mundo será outro,
Parado, de conflitos suspensos
E ações estáveis nos pregões
E praças, quartéis e camas,
Porque o homem terá criado
Juízo e se reencontrado,
Trocando as balas por bolas.

Francisco Costa.

Rio, 26/03/2014.

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