Eu pensei em
te procurar nos livros,
Mas são
tantos e com tão variadas
E
contraditórias versões que desisti.
Depois ouvi
a voz dos homens,
Inocentes,
uns, acreditando-se
Teus porta
vozes, conhecedores
De todos os
teus mistérios, dotes,
Razão,
intenções, motivos, propósitos,
Em fanatismo
próprio do desequilíbrio.
Em outros
ouvi a desonestidade,
O amealhar
em teu nome e em teu nome
Edificar
fortunas, em adoração pagã
Cultuando
moedas nos púlpitos,
Atribuído
preço à tua obra, cobrando
Pelo existir
humano, retalhando-te
O conceito
em cepos, balcões, vitrines
De
fedorentas doutrinas oportunísticas.
E busquei em
meu próprio coração,
E também não
estavas, provavelmente
Expulso por
mim mesmo desatento
Sem tempo,
preso a coisas menores.
E procurei
no próximo e não estavas.
Não
habitarias carências feitas de faltas,
Muito menos
carências feitas de excessos,
Em rebanho
de apartados pelas posses,
Em
recíprocos homicídios em nome do ter,
Juntar o
pueril e passageiro, de fim certo.
E cheguei a
conclusão óbvia e racional:
Não existes,
és uma necessidade humana,
Uma criação
nossa para compensar faltas
E arredar em
definitivo o medo da morte.
Desesperançado,
vazio, opaco, despido
De qualquer
vontade, certo da inutilidade
Da minha
própria existência, acidente
De percurso
aleatório e tempo limitado,
Sentei-me no
alpendre da varanda, sozinho,
Possuído da
solidão do inimaginável infinito,
Mero
pontinho flutuando na eternidade.
E então
atentei para o colorido dos pássaros,
Seus
trinados e gorjeios, as borboletas,
Fragilidades
postas em cores, para as nuvens,
Dança de
multiformas etéreas, para o azul,
Cúpula que
me limita e contém, para o mar,
Quase que
mundo a parte, de diferenças.
E fui às
entranhas do planeta, viajando vermes
E rochas,
até chegar na caldeira infernal
Onde
cozinhas elementos e constróis vidas.
Viajei
galáxias, sistemas planetários, átomos,
Cada
partícula do que não poderia ser imaginado
E enxuguei a
minha primeira e furtiva lágrima,
Quando os
quase surdos ouvidos do coração
Puderam ouvir
reverberando em cada cor,
Cada forma,
cada movimento, o eco da tua voz
Repetindo
“eu estou aqui”, “eu estou aqui”.
Francisco
Costa
Rio,
02/03/2014.
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