Acho que pedi muito a Deus
E Ele foi generoso comigo,
Atendeu a todos os pedidos.
Eu não devia ter pedido nada,
Para conservar a inocência
Que perdi ao ser atendido.
Eu me queria simples e puro,
Longe das teorias e teoremas,
Da política e dos fonemas,
Como um bicho da terra,
Que em si se basta e se encerra,
Confundindo-se na fauna,
Onde seria só mais um ser,
Sem conflitos na alma.
Eu queria saber dançar,
Tocar flauta de bambu,
Escrever cordel e cantoria,
Ao invés dessa complexa poesia.
Mas não, ao invés, inundei-me
De complicadas teorias,
Para tudo tenho explicação,
Matando a doce magia
Que habita cada coração,
E que no meu também habitaria.
Caminhei tanto, para descobrir
Que o preço da caminhada
É a perda do encanto
Porque no fim... Só o nada.
Pedi muito a Deus
E tudo Deus me deu,
Cobrando-me preço caro,
A perda da inocência,
Essa incontinência da dor,
Profunda e permanente,
Torturando corpo e mente.
Pudesse retornar ao princípio
E eu evitaria esse precipício,
O de todos os segredos
Querer dominar,
Reduzido a anônimo pescador,
Talvez namorando o mar.
A dor do pensador
É a dor de todos
Os que sentem dor,
Só que ampliada,
Mais que compartilhada,
Multiplicada.
Ardo-me duplamente,
Pelo que sei
E pelo que não sabem.
Francisco Costa
Rio, 13/11/2016.
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