Mal nascido,
entre carências e sacrifícios,
Carpindo o
solo com enxada e infância,
Pés no chão,
sob sol e chuva,
Na miséria
generalizada que orna esse país,
Bem podias
te alçar maior para os teus.
Negro, de
negra pele em sociedade branca,
Extensão da
escravidão e dos preconceitos,
Só quase
único negrinho que deu certo,
Era teu
destino fazer-se emblemática lição
De que os teus
iguais são iguais a todos.
Mas não, tua
alma encardiu ao avesso,
Clarearam-se
em ti coração e vontades,
Consciência e
até a própria história,
Fazendo-te
servil aos algozes dos teus,
Dos meninos
que, iguais a ti, carpem o solo
Com enxada e
infância, sob sol e chuva,
Eternizando a
inferioridade e o preconceito.
E não bastou
ser dócil e servil, servente,
Foi preciso
mais, e então empunhaste
A bandeira
deles, defendendo-os, feroz,
Cuidando de
cada um dos interesses deles.
Na calada da
noite, no silêncio da conspiração
Tu te reúnes
no instituto Millenium,
Departamento
da tevê Globo, e teus pares
Conspiram contra
a miséria, em golpes,
Tramando a
sordidez da exploração,
Prontos a
assenhorearem-se do país,
Como se propriedade
particular, deles,
Com um
negrinho infiltrado, em equívoco,
Pensando fazer
parte da elite também.
Logo, a
soldo deles ou não, tu cuidaste
De outra
lavra, a da política, ceifando perigos
Que se
ofereciam a eles, os que gerenciam
O que favorece
aos teus, os que esqueceste.
Como um
Judas contemporâneo, mentiste,
Entregaste
ao cárcere muitos dos nossos,
Os que não
querem crianças carpindo
Os descaminhos
que os levarão ao nada.
Havia espelhos
prontos para te refletir:
Luther King
exigindo os direitos dos negros;
Mandela, o
Mandiba hóspede de corações
E mentes
negras despertadas e lúcidas;
Zumbi, fera
fúria rompendo senzalas,
Apontando caminhos,
garimpando
Negras gemas
de consciência
Em negras
pedras duras, órfãs de querer.
Mas não,
traidor em último grau,
Tu te
fizeste mais um deles,
Simples serviçal,
só um servidor,
Escravo voluntário
de estranha ideologia,
Onde um
homem é propriedade de outro.
Agora,
quando racistas e preconceituosos
Atirarem bananas
e grunhirem,
Disserem que
preto é meio gente,
Ou para não
dar poder a pobre,
Que preto
quando não caga na entrada
Caga na
saída, teus irmãos olharão para ti,
Certos de
que eles, a elite, têm em ti
A prova
equivocada de que estão certos.
E chorarão
ainda por mais algum tempo,
Na esperança
de que entre eles nasça um
Que salte da
enxada e da infância, e lute
Não pelas
cifras que se ostentam
Em bancos e
cartórios, assenhoreando-se,
Mas pelos
iguais que purgam miséria.
Por instinto
sabem que moedas
São de duas
faces: cara e coroa,
Jesus e
Judas, César e Brutus,
Zumbi e
Joaquim Barbosa.
Francisco
Costa
Rio,
03/05/2014.
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