(“Deixai que
venham a mim as criancinhas”
Ele estava
brincando ou nos dando o exemplo?)
Hoje,
especialmente hoje,
Eu os
convido a um ato revolucionário,
À cegueira
da pretensa razão:
Dispamo-nos
de conceitos e preconceitos
E olhemos
com os olhos do que não vê:
Salve as
crianças, viva as crianças, todas,
Continuidade
e permanência, sequência.
As bem
vestidas e calçadas, bem alimentadas
Entre
shoppings e viagens, luxo e conforto;
As descalças
e de peitos nus, sorridentes,
Correndo nas
alamedas da vida, em gritos,
Atrás de
bolas, pipas, balões... Da vida;
As
compenetradas e sérias, preparando-se
Para a arte
da análise e da crítica, predestinadas;
As que
empurram carrinhos e embalam bonecas,
Em plágios
aos adultos, preparando-se.
Mas
lembremo-nos também das terminais,
Das que
purgam dores e inexistência adiante,
Em leitos,
agonia, purgando dores injustas;
As de Down,
existência em câmera lenta,
Sem
atavismos ao que é material e à pressa;
As autistas,
habitantes de universos pessoais,
Recusando à
contaminação do feio e do triste;
As cegas,
num mundo só de imaginação;
As mudas,
amando sem pronunciar te amo;
As surdas,
imunes a música e às vozes de mães;
As
paraplégicas, interditas a bolas, a pipas,
A corridas
na chuva, a cantigas de roda.
Mas,
sobretudo, lembremo-nos, e muito,
Das que
vivem pela metade, das que nascidas
Semelhantes
ao que se convencionou normal,
Vivem
lentas, em down; em mundo próprio,
Obrigatoriamente
autistas; cegas porque só vendo
O que comer,
em miragens de utopias;
Mudas,
porque a solidão não oferece interlocutores;
Surdas
porque alheias ao que não tem sentido;
Paraplégicas
porque longe de brinquedos e brincadeiras;
Terminais,
porque a fome mata.
Olhemos para
as crianças sem apartá-las,
Em
pensamento único fazendo-as iguais: crianças.
Se
conseguirmos, pelo menos no dia de hoje,
Fomos longe,
nos tornamos crianças também,
Só pessoas a
mais num rebanho de iguais,
Crianças
também, vida plena, sem concessões.
Conseguindo,
não olhemos para o ontem:
Sentiremos vergonha
de termos sido adultos.
A mesa está
posta.
Que se
sentem todas as crianças do mundo,
Sem cores,
raças, nacionalidades, ideologias...
Só crianças,
como um dia fomos e nos esquecemos.
Francisco
Costa
Rio,
01/06/2013.
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