Voce Não Vai Mudar o Mundo
Menino
ainda, rebelde ao que me ensinavam,
esperneava
já o meu precoce inconformismo.
Meus pais,
rápido acorreram em meu socorro:
Francisco,
você não vai mudar o mundo!
Adolescente,
dividi beijos e gritos de protesto,
passeei por
parques e praias, confiante, rindo
nas
passeatas, gargalhando nas greves, feliz
diante de um
mundo novo que se ergueria logo.
E as vozes
de meus pais, meus avós, de todos:
Francisco,
você não vai mudar o mundo!
Logo
levei o meu corpo e meus beijos para
camas,
fiquei
adulto, e meus gritos se radicalizaram.
Vieram as
apreensões e os medos na família,
minha cabeça
entre o garrote e a espada,
uma ou outra
subtração do direito de ir e vir,
não da
liberdade, porque ela estava e está em mim.
E a voz da
família: você não vai mudar o mundo!
Casei,
semeei-me em filhos, compromissos outros,
mas sempre
com a garganta ocupada, em gritos.
E vieram as
lutas sindicais, as greves, as passeatas
comigo à
frente, porque agora eu me fizera só
grito.
E a mulher
em casa, e os meus filhos em medos:
Francisco,
você não vai mudar o mundo!
E veio a
minha literatura, o meu fazer plástico,
gritos
redigidos, gritos coloridos, gritos disfarçados.
Agora é a
velhice, as dores da revolta e do ódio
juntando-se
às dores físicas, limitando instintos.
E me
surpreendo diante do monitor, concentrado
digitando os
mesmos gritos que gritei sempre,
esperando a
hora do meu último grito, afinal.
E volto às
origens, lá na infância, passo por mim
adolescente,
viajo no adulto e chego aqui, agora:
Francisco,
você não vai mudar o mundo!
Reverberando
como eco em meus tímpanos,
mas como
sempre, sem chegar ao coração, imune,
blindado a
qualquer coisa que não seja o amor.
E a todos
aqueles que, em permanente preocupação
gritaram:
Francisco, você não vai mudar o mundo!
A minha
firmeza de sempre e a mesma convicção:
não mudei o
mundo, mas o mundo não me mudou.
Francisco
Costa
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