segunda-feira, 6 de maio de 2013

Voce Não Vai Mudar o Mundo

Voce Não Vai Mudar o Mundo
Menino ainda, rebelde ao que me ensinavam,
esperneava já o meu precoce inconformismo.
Meus pais, rápido acorreram em meu socorro:
Francisco, você não vai mudar o mundo!

Adolescente, dividi beijos e gritos de protesto,
passeei por parques e praias, confiante, rindo
nas passeatas, gargalhando nas greves, feliz
diante de um mundo novo que se ergueria logo.
E as vozes de meus pais, meus avós, de todos:
Francisco, você não vai mudar o mundo!

Logo levei  o meu corpo e meus beijos para camas,
fiquei adulto, e meus gritos se radicalizaram.

Vieram as apreensões e os medos na família,
minha cabeça entre o garrote e a espada,
uma ou outra subtração do direito de ir e vir,
não da liberdade, porque ela estava e está em mim.
E a voz da família:  você não vai mudar o mundo!

Casei, semeei-me em filhos, compromissos outros,
mas sempre com a garganta ocupada, em gritos.

E vieram as lutas sindicais, as greves, as passeatas
comigo à frente, porque agora eu  me fizera só grito.
E a mulher em casa, e os meus filhos em medos:
Francisco, você não vai mudar o mundo!

E veio a minha literatura, o meu fazer plástico,
gritos redigidos, gritos coloridos, gritos disfarçados.

Agora é a velhice, as dores da revolta e do ódio
juntando-se às dores físicas, limitando instintos.
E me surpreendo diante do monitor, concentrado
digitando os mesmos gritos que gritei sempre,
esperando a hora do meu último grito, afinal.

E volto às origens, lá na infância, passo por mim
adolescente, viajo no adulto e chego aqui, agora:
Francisco, você não vai mudar o mundo!
Reverberando como eco em meus tímpanos,
mas como sempre, sem chegar ao coração, imune,
blindado a qualquer coisa que não seja o amor.

E a todos aqueles que, em permanente preocupação
gritaram: Francisco, você não vai mudar o mundo!
A minha firmeza de sempre e a mesma convicção:
não mudei o mundo, mas  o mundo não me mudou.

Francisco Costa
Rio, 15/02/2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário