Última Viagem
Tenho que
fazer as malas. Vou viajar.
Principio
por abri-las bem devagar,
para não
provocar sustos nos conteúdos,
nem
despertá-los. São de uso antigo,
inúteis
agora. Supérfluos, só pesam.
Primeiro
livro-as dos beijos e abraços,
das carícias
que guardei dobradinhas
na esperança
de que não amarrotassem
nem
envelhecessem desbotadas, rotas
pelo
desgaste das decepções.
Agora todos
os momentos de ingratidões,
quando posto
em oferenda, oferecido,
não viram
nada, e disseram fome
ao que se
sucedeu às refeições.
Tem umas
traições aqui... De amigos
em amnésia,
de mulheres que não sei,
com o pudor
em delito
e o coração
adormecido.
Alguns
domingos de chuva,
palavras
duras, ásperas,
ditas em
momentos de assombro,
ouvidas
sempre que me permiti.
Velórios
também tem. Muitos.
E em cada um
deles também morri.
Tem
ingratidões também.
Meu Deus,
quantas! Talvez
para
compensar as que cometi.
Rapaz!
Quantos instantes de incredulidade,
De dúvidas,
ceticismo... Racionalismo tonto
mergulhando-me
em solidão e desalento.
Agora a
curiosidade, esse instinto perverso
de buscar
razões de ser assim e não assim,
de uma
palavra dita despretensiosa
aos
questionamentos transcendentais
erigindo-me
pequeno deus caído,
despojado de
qualquer atributo que não
a escuridão
ignorante ansiando a luz.
Tem aqui
algumas pretensões, ambições,
esperanças
desmedidas e inalcançáveis,
certezas que
se mostraram estúpidas
convicções
tortas de um louco na chuva.
Pronto. Está
vazia. Adeus. Vou viajar.
Devo demorar
muito pra voltar.
Francisco
Costa.
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