terça-feira, 7 de maio de 2013

TEMPOS BICUDOS


Não consumidor de drogas,
salvo ocasionais analgésicos
em choque com a constante cefaléia,
sem nenhum experimento no histórico,
surpreendi-me, sem uma explicação
para a realidade que me rodeia:

Erigido a símbolo de mudança,
o radical neo tornou-se prefixo
anunciando as boas novas,
novidades que me rodeiam,
em delírio de drogado em abstenção:

os neoliberais agora ansiam ditaduras,
e preparam-nas, enquanto o povo dorme;
os neocomunistas privatizam, vendem
o bem público, edificam a miséria;
os neo religiosos colocaram catracas,
roletas, postos de pedágios no paraíso;
democratas pregam o extermínio da oposição;
a justiça recuperou a visão e viu o cofre.

Não tarda e as neo virgens
trabalharão nas zonas;
os neo políticos, em mosteiros;
os terroristas, em asilos e orfanatos.

Perdi a capacidade de entendimento,
de analisar uma simples letra de música,
poemas que se propõem musicados.
O que quereria dizer, por exemplo,
lec lec, é o tcham, trambôi nos óio
vou te comer, cachorra!, é o bole-bole?

Preciso parar com o café e os cigarros.
A cafeína e a nicotina enlouquecem,
fazem ver tudo invertido,
acreditando que os conservadores
se tornaram a ponta da vanguarda.

(agora Lula está escrevendo livros,
já sabe o ele e o i. Só falta aprender
o vê, o erre, o ó e o esse.
Não é crítica ao ex-simplório operário
nem preconceito com o não saber,
mas aos neo intelectuais
teorizando sobre o que nem supõem,
em rebate a teorias consagradas
e defesas de estapafúrdias teses).

Parei com os cigarros. Parei com o café.
Tenho medo de me tornar neo heterossexual
e me apaixonar pelo vizinho.

Francisco Costa
Rio, 30/04/2013.

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