Tédio
Você acorda
e vê
que a s
folhas que balançam preguiçosamente nas árvores
são as
mesmas folhas de ontem na mesma árvore de ontem.
As pessoas
que passam apressadas nas calçadas,
as mesmas
pessoas de ontem na mesma calçada de ontem,
as flores
rubras e os pássaros multicoloridos
as mesmas
flores e os mesmos pássaros de ontem.
Você acorda
e vê
que as mãos
de hoje são as mãos de ontem:
as mesmas
linhas, os mesmos dedos, os mesmos calos de ontem.
Olha-se no
espelho e vê que os olhos tristes
são os
mesmos olhos tristes de ontem,
sabe que vai
beijar a mesma mulher de ontem,
amar e gozar
na mesma mulher de ontem.
Você acorda
e vê
que o mundo
de hoje é o mesmo mundo de ontem,
as situações
se repetirão hoje como se repetiram ontem:
mesmas
gírias, mesmos assuntos, mesmos palavrões de ontem.
Você acorda
e vê
que não
queria acordar, não queria o hoje
como não
quis o ontem.
Se
espreguiça como se espreguiçou ontem,
vai ao
banheiro e, enquanto mija como mijou ontem,
pensa que um
tiro evitaria o amanhã,
um futuro
plágio de hoje, um plágio de ontem.
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