segunda-feira, 6 de maio de 2013

Tédio

Tédio
Você acorda e vê
que a s folhas que balançam preguiçosamente nas árvores
são as mesmas folhas de ontem na mesma árvore de ontem.
As pessoas que passam apressadas nas calçadas,
as mesmas pessoas de ontem na mesma calçada de ontem,
as flores rubras e os pássaros multicoloridos
as mesmas flores e os mesmos pássaros de ontem.

Você acorda e vê
que as mãos de hoje são as mãos de ontem:
as mesmas linhas, os mesmos dedos, os mesmos calos de ontem.
Olha-se no espelho e vê que os olhos tristes
são os mesmos olhos tristes de ontem,
sabe que vai beijar a mesma mulher de ontem,
amar e gozar na mesma mulher de ontem.

Você acorda e vê
que o mundo de hoje é o mesmo mundo de ontem,
as situações se repetirão hoje como se repetiram ontem:
mesmas gírias, mesmos assuntos, mesmos palavrões de ontem.

Você acorda e vê
que não queria acordar, não queria o hoje
como não quis o ontem.

Se espreguiça como se espreguiçou ontem,
vai ao banheiro e, enquanto mija como mijou ontem,
pensa que um tiro evitaria o amanhã,
um futuro plágio de hoje, um plágio de ontem.

Francisco Costa

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