Roubaram-me
as cores do jardim!
As flores
todas amanheceram cinzas,
como cinzas,
de negro em todos os tons,
desbotados
matizes, as borboletas também.
O sol só
reflete agora a monotonia
monocromática
dos televisores antigos,
como se eu
tivesse os olhos obinublados,
opacos, impróprios
à luz, inúteis, a mais.
Em desespero
e frustração, mal contido,
ajoelhei-me
no oratório da razão:
por que
comigo? Porque isso, essa mazela
impondo-me,
ainda que fora, uma mutilação?
E então o
anjo da poesia (existem. Confia!)
rindo-se,
aconchegou-se em confidência:
acalma-te.
Pelas cores conheces as flores.
Fossem todas
iguais, como dizer rosa ou dália,
como apartar
mal-me-queres e margaridas?
Este o
saber, perceber cores, distinguir
matizes,
tons, nuances, diferenças.
O ignorante
não conhece as cores do mundo,
vê com a
lente do tudo igual e já sabido.
Já os teus
olhos acordam e as cores também.
Esse susto
foi só para te apiedares
dos que não
sabem das cores,
e fazer de
ti próprio, missão:
espalhar
cores, colorir tudo.
Para tanto
faz da escrita ferramenta,
das palhetas
e pincéis, instrumentos,
da tua voz,
oração. Colorir é tua meta.
E então me
fiz poeta.
Francisco
Costa
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