Sonhar Caravelas
(Um poema de natal)
(Um poema de natal)
Sonhei
caravelas lotadas de sonhos,
muitas, em
esquadra enorme
singrando os
mares da minha imaginação.
Chegavam
carregadas, convés e porão,
com o que
não ocupa espaço, só o coração.
Imunes às
tempestades, alheias às noites,
atravessaram
temporais de saudades,
vendavais de
solidão, borrascas de tédio
e aportaram
imunes, hoje, no meu sonho.
Uma trazia
esperança; outra, alegria;
ainda outra,
fé; e mais outras carregadas:
confiança no
futuro, solidariedade ao irmão
temporariamente
cego a caravelas;
resignação
diante da própria dor
porque a do
semelhante pode ser maior;
e amor. Amor
em todas as suas variantes:
da mãe que
embala e amamenta o futuro;
do pai que
garimpa pão e segurança;
dos
antepassados que oram e velam;
dos
descendentes que nos continuarão;
do corpo
parceiro, crescendo em nós
para
permitir o nosso próprio crescimento,
alternando-se
em lágrimas e orgasmos.
Atento ao
que é mágico, observador dos dias,
tentei
identificá-las, perceber se nas velas,
nas
bandeiras, bandeirolas ou nos cascos
mostrava-se-me
uma palavra, uma imagem,
e havia. Não
era das cortes portuguesas ,
iguais às
que navegam os meus livros,
menos de
Holanda ou Espanha, e, alívio,
não traziam
crânios de fêmures cruzados.
Em todas
elas, luzindo em luz natural
cintilando
em promessas,
uma única e
mesma palavra: natal.
Francisco
Costa
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