Como
homenageá-las se mais não fiz que chorar,
ininterrupto
e cotidiano, a cada uma que chegou
e, granítica
e fria, partiu levando um pedaço?
Como, se me
lembro de cada lágrima gasta sempre,
ora em
surdina do envergonhado, dissimulado,
ora em
pranto desbragado, assumido, mais doendo?
Como calar
as noites de temporais, meu corpo na chuva,
vergado e
só, salgando poças, ocasionais correntezas,
bueiros, com os pingos da minha alma liquefazendo-se,
dor líquida
entre trovões e relâmpagos, enxurradas?
Como,
digam-me, como prestar culto às musas
da minha dor
permanente, rasgando, queimando
em tortura
de prisioneiro ansiando a morte, o fim?
Como
louvá-las se não mais fizeram que cavar espaços,
construir
buracos em meu peito todo remendado?
Mas...
Pronto ao ponto final, me lembro a tempo:
se cá estou,
aqui cheguei rasgando carnes, em gemidos,
semeando
hemorragias, espalhando sangue , dores.
E imagino os
meus primeiros passos em mãos seguras,
as letras,
matéria prima dos meus poemas, domesticadas
por mãos macias
e carinhosas: a e i o u, vovó viu a uva,
em dedicação
de parte que não se aparta porque impossível.
E a primeira
namorada, de beijo rápido corrido, envergonhado,
mal sentido
nos lábios tesos, duros, nervosos, adolescentes.
E beijos
outros, vida a fora, já apascentados da inexperiência,
fazendo-se
novos e diferentes em cada uma, porque diferentes.
E o primeiro
corpo nu, primeiro orgasmo fora das mãos,
uma chuva de
estrelas caindo, explosão de luz, êxtase
posto na
consecução do que é finito, e por finito, grande.
E outras,
outras, mais outras num rosário quase sacro
de contas
perfumadas, debruadas em desejos e paixões
acorrentando-me
a corpos, olhares, dissimulações, amores.
E me vejo
interdito aos versos se não por elas, matéria prima
dos meus sorrisos,
dos meus encantos transcritos no papel, na tela,
no mundo, em
mim mesmo ostentando-me passionalidade escrita.
Como então,
hoje, deixar de confessar que minhas lágrimas,
nunca demais
por mais que muitas, mais não foram que culto,
ritual de
amante em permanente dedicação, entrega total,
desde o
momento primeiro, quando rasguei a primeira em parto,
até o meu
momento último, além, despedida de cada uma delas?
Minha
história é a história das minhas paixões.
Sem elas eu
seria planta, pedra, nuvem...
Qualquer
coisa, menos um homem.
Francisco
Costa
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