terça-feira, 7 de maio de 2013

POETA, ARTISTA OU ARTESÃO?


Há que se cantar o amor,
esse magnetismo natural que permeia tudo,
unindo galáxias e corações, induzindo
à cópula tudo o que vive, usina de emoções.

Há que se cantá-lo em cada oportunidade,
no gesto despretensioso da mulher na praia,
espojada em sol e brisa, no sorriso do menino
mastigando inocência e caramelos,
em cada pétala, seja de carne ou vegetal.

Sim, cantemos o amor, essa magia inexplicável
que se alterna em risos e lágrimas, habita,
imponderável, cada partícula de cada coisa.

E se os cientistas buscam a unificação das forças
em força única manifesta em todas,
para que o Universo faça sentido e tudo se explique,
no campo do não científico, porque não quantificável,
não exprimível, senão em gestos e palavras,
há essa outra força, única e totalitária, onipresente,
de manifestação vária e cotidianamente à mostra.

Extremistas, os homens.
Os das ciências, atordoados e atentos,
buscando a força única e primordial, mãe de todas.
Os poetas, por já conhecerem,
negligenciando todas as suas manifestações,
por tê-las menores e poucas, sem importância.

Só falam de si e seus amores miúdos, monocordicamente,
como se todo o universo começasse e terminasse ali,
no que pensam e sentem, e tudo o mais fosse nada.

Pouco leio versos sujos de terra e sangue, sem dentes,
de mãos postas, não em preces, mas em súplicas.
Raros são os versos que desancam os partidários do não amar,
os que elaboram leis postas para impedir o trânsito do amor,
os que tentam ordenar os vôos dos pássaros, a trajetória do sol,
e disciplinar as cores postas nas retinas do artista distraído.

Não, não vejo os que garimpam miséria e pão, esperanças,
choram a orfandade dos poetas só atentos às  suas musas,
como de mesma orfandade choram os encarcerados e mudos
no anonimato do não saber, no abandono da alienação.

E que não se culpe a poesia e os seus artistas.
Poeta que se repete, repetindo sempre as mesmas palavras
para descrever sempre  a mesma emoção,
é poeta mas não é artista, é artesão.

Francisco Costa
Rio, 27/01/2013.

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