“Posso escrever os versos mais tristes essa
noite
Eu a quero
e, também, ela, às vezes me quis.”
Flor de
pranto e medo, brotou-me arraigando-se fundo,
Sugando inspiração e tédio e madrugadas e poesias.
Flor
passadopresentefuturo, anulou-me.
Anacrônica, fez-me
voar para não sei onde depois.
Materializou-se
anjo na minha espera, bem adiante
Diante dos
meus olhos grávidos daquelas formas.
Cristalina
lágrima a dançar mansa
No nada que
me leva a essa triste realidade
Diga-me: até
quando, até quando, até quando?...
Mas que
erudição é esta que me faz fim de festa?
Que cultura
é esta, que dor, só dor, me empresta?
Deus, assim acabo
acreditando que você já morreu.
E esta noite
infinita, maior sem ela...
Que fazer
com a minha voz súplica ante o silêncio resposta?
Que fazer
com a minha proposta, pão sem trigo?
Que fazer
com o meu gesto transparência na ausência da luz?
Senhor, por que,
por que dar-me tão infame e pesada cruz?
E agora que
o meu sorriso manto foi-se vestido nessa criatura,
Que resta de
digno fora de mim, que resta, fora uma sepultura?
Talvez um
comprimido para um homem comprimido pela vida.
- Você
estava procurando um pretexto... Um pretexto... Um...
Não, não e
não! Não és palavra só, és o meu próprio
texto todo,
Meu todo
texto e... Concordo, meu pretexto... Para viver.
“Posso escrever os versos mais tristes esta
noite.”
Escrever que
ela partiu. Mas não, eu a mandei embora.
Escrever que ela me quer . Mas não, eu não acredito.
Escrever
correndo que voltarei. Mas não, eu hesito.
“De outro. De outro será. Como antes dos
meus beijos.
Tão curto o amor, tão largo o esquecimento!
Porque em noites como esta eu a tive nos
braços.
Minh’alma não se resigna de havê-la perdido,
Embora seja a última dor que me causa e,
Estes os derradeiros versos que lhe
escrevo.”
E se, por
pena ou dó, chorares por me ver só,
Saiba que
pouco me importarei com seus queixumes,
Já não me
servirão mais de lumes nessa escuridão.
Ou servirão
ainda? Não sei, mas não chore, sim?
Teus olhos
não verterão lágrimas,
Verterão,
tiranos implacáveis
Pequenos
pedaços de mim.
N. A. – Os versos entre aspas são do poeta chileno
Pablo Neruda.
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