terça-feira, 14 de maio de 2013

PATÉTICA ELEGIA (De parceria com Neruda)


“Posso escrever os versos mais tristes essa noite
Eu a quero  e, também, ela, às vezes me quis.”

Flor de pranto e medo, brotou-me arraigando-se fundo,
Sugando  inspiração e tédio e madrugadas e poesias.
Flor passadopresentefuturo, anulou-me.
Anacrônica, fez-me voar para não sei onde depois.

Materializou-se anjo na minha espera, bem adiante
Diante dos meus olhos grávidos daquelas formas.

Cristalina lágrima a dançar mansa
No nada que me leva a essa triste realidade
Diga-me: até quando, até quando, até quando?...

Mas que erudição é esta que me faz fim de festa?
Que cultura é esta, que dor, só dor, me empresta?
Deus, assim acabo acreditando que você já morreu.

E esta noite infinita, maior sem ela...
Que fazer com a minha voz súplica ante o silêncio resposta?
Que fazer com a minha proposta, pão sem trigo?
Que fazer com o meu gesto transparência na ausência da luz?
Senhor, por que, por que dar-me tão infame e pesada cruz?

E agora que o meu sorriso manto foi-se vestido nessa criatura,
Que resta de digno fora de mim, que resta, fora uma sepultura?
Talvez um comprimido para um homem comprimido pela vida.

- Você estava procurando um pretexto... Um pretexto... Um...
Não, não e não!  Não és palavra só, és o meu próprio texto todo,
Meu todo texto e... Concordo, meu pretexto... Para viver.

“Posso escrever os versos mais tristes esta noite.”
Escrever que ela partiu. Mas não, eu a mandei embora.
Escrever  que ela me quer . Mas não, eu não acredito.
Escrever correndo que voltarei. Mas não, eu hesito.

“De outro. De outro será. Como antes dos meus beijos.
Tão curto o amor, tão largo o esquecimento!
Porque em noites como esta eu a tive nos braços.
Minh’alma não se resigna de havê-la perdido,
Embora seja a última dor que me causa  e,
Estes os derradeiros versos que lhe escrevo.”

E se, por pena ou dó, chorares por me ver só,
Saiba que pouco me importarei com seus queixumes,
Já não me servirão mais de lumes nessa escuridão.

Ou servirão ainda? Não sei, mas não chore, sim?
Teus olhos não verterão lágrimas,
Verterão, tiranos implacáveis
Pequenos pedaços de mim.

N. A. – Os versos entre aspas são do poeta chileno Pablo Neruda.

Francisco Costa

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