terça-feira, 7 de maio de 2013

OUVINDO STYLISTICS (PEDAÇOS PERDIDOS)


Lá longe, quando meu corpo, liso e forte, ostentando-se
ausência de comedimentos, era ânsia, fome de tudo,
deixei aqueles sorrisos distraídos, sem compromissos,
entre beijos rápidos e a minha curiosidade adolescente,
dormindo no desconhecimento do que me esperava.

Meus espelhos me enganaram, estampando imagens
criadas pela minha imaginação vendo-me crescer
enquanto diminuía, espalhando pedaços, nacos, cacos
do meu próprio corpo nascido para desfazer-se em vida.

Foram nesgas de mim mesmo sobre balcões, em escambo
de moedas por futilidades; em esquinas comigo alheio,
partilhando as tardes entre amigos; em escolas e cursos,
bebendo tudo o que é só especulação e desconfiança;
em livros, personagem coadjuvante, vivendo vidas outras;
diante de mim mesmo perdido em mim, me vasculhando.

Quantas camas com pedaços meus! Em casa, hotéis, motéis,
hospitais... Exceto no cárcere, porque de cama concretada
na indignação e no desespero, fria, estranha, sem futuro.

Pedaços apaixonados, pulsando sangue e desejo, puro tesão
do meu corpo transfigurado em outro, habitando sonhos;
pedaços frustrados no intervalo do agora e o nunca mais;
pedaços tristes, porque mentirosos dizendo amor e paixão
o que era só carne, hormônios ditando o comportamento;
pedaços risíveis diante de tantas mentiras ouvidas em créditos
de veracidade estelionatando beijos e entregas radicais;
pedaços, nesgas, partes, nacos, fragmentos, cacos...

Como num banho de continuado esfregaço, em volúpia:
sabões, sabonetes, esponjas, buchas, lixas... Todo o corrosivo
em abrasão louca reduzindo-me cada vez mais e mais e mais...

Até reduzir-me a simples poema, um coração aberto ao mundo
e mãos digitando nervosas os meus pedaços perdidos.

Francisco Costa
Rio, 07/03/2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário