Lá longe,
quando meu corpo, liso e forte, ostentando-se
ausência de
comedimentos, era ânsia, fome de tudo,
deixei
aqueles sorrisos distraídos, sem compromissos,
entre beijos
rápidos e a minha curiosidade adolescente,
dormindo no
desconhecimento do que me esperava.
Meus
espelhos me enganaram, estampando imagens
criadas pela
minha imaginação vendo-me crescer
enquanto
diminuía, espalhando pedaços, nacos, cacos
do meu
próprio corpo nascido para desfazer-se em vida.
Foram nesgas
de mim mesmo sobre balcões, em escambo
de moedas
por futilidades; em esquinas comigo alheio,
partilhando
as tardes entre amigos; em escolas e cursos,
bebendo tudo
o que é só especulação e desconfiança;
em livros,
personagem coadjuvante, vivendo vidas outras;
diante de
mim mesmo perdido em mim, me vasculhando.
Quantas
camas com pedaços meus! Em casa, hotéis, motéis,
hospitais...
Exceto no cárcere, porque de cama concretada
na
indignação e no desespero, fria, estranha, sem futuro.
Pedaços
apaixonados, pulsando sangue e desejo, puro tesão
do meu corpo
transfigurado em outro, habitando sonhos;
pedaços
frustrados no intervalo do agora e o nunca mais;
pedaços
tristes, porque mentirosos dizendo amor e paixão
o que era só
carne, hormônios ditando o comportamento;
pedaços
risíveis diante de tantas mentiras ouvidas em créditos
de
veracidade estelionatando beijos e entregas radicais;
pedaços,
nesgas, partes, nacos, fragmentos, cacos...
Como num
banho de continuado esfregaço, em volúpia:
sabões,
sabonetes, esponjas, buchas, lixas... Todo o corrosivo
em abrasão
louca reduzindo-me cada vez mais e mais e mais...
Até
reduzir-me a simples poema, um coração aberto ao mundo
e mãos
digitando nervosas os meus pedaços perdidos.
Francisco
Costa
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