terça-feira, 7 de maio de 2013

OUVINDO BEATLES


Que foi feito das meninas da minha infância?
Quantas envelhecem em paralelo comigo,
contando o mesmo tempo, entre netos,
lembrando antigas canções, beijos roubados?

Quantas amarguram lágrimas, doem caladas,
lembrando saudades, ansiando recomeços?

Quantas perderam-se em becos sem saídas,
abandonaram-se em esquinas, em avenidas
lotadas de estranhos caminhando, alheios
como elas, trancadas em doces recordações?

Quantas carregam ainda o encanto infantil
de olhos assustados diante de nós, meninos
a cata de novidades imaginadas sob vestidos,
saias, sempre negadas, em triste contradição
com a vontade e os instintos? (sabíamos disso)

Quantas conservam ainda sorrisinhos claros,
marotos, de quando dançávamos agarradinhos,
excitação explícita, respiração profunda, lenta,
propositalmente na orelha, pescoço, na nuca,
sadicamente estudando reações, atentos?

Quantas guardaram segredos e sorriram sós,
com a memória úmida, excitada?  Quantas
confidenciaram, indiscretas e divertidas, rindo?

Será que alguma ainda lembra daquele menino,
calças apertadas, cabelos a Lennon, cinturão
com fivelões, blusões estampados, cordões,
discutindo música e política, dançado, em risos,
distribuindo versos? Como gostaria de vê-las,
para dizer que aquele menino não cresceu,
só ficou preso num corpo que envelheceu.

Francisco Costa
Rio, 03/04/2013.

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