Que foi
feito das meninas da minha infância?
Quantas
envelhecem em paralelo comigo,
contando o
mesmo tempo, entre netos,
lembrando
antigas canções, beijos roubados?
Quantas
amarguram lágrimas, doem caladas,
lembrando
saudades, ansiando recomeços?
Quantas
perderam-se em becos sem saídas,
abandonaram-se
em esquinas, em avenidas
lotadas de
estranhos caminhando, alheios
como elas,
trancadas em doces recordações?
Quantas
carregam ainda o encanto infantil
de olhos
assustados diante de nós, meninos
a cata de
novidades imaginadas sob vestidos,
saias,
sempre negadas, em triste contradição
com a
vontade e os instintos? (sabíamos disso)
Quantas
conservam ainda sorrisinhos claros,
marotos, de
quando dançávamos agarradinhos,
excitação
explícita, respiração profunda, lenta,
propositalmente
na orelha, pescoço, na nuca,
sadicamente
estudando reações, atentos?
Quantas
guardaram segredos e sorriram sós,
com a
memória úmida, excitada? Quantas
confidenciaram,
indiscretas e divertidas, rindo?
Será que
alguma ainda lembra daquele menino,
calças
apertadas, cabelos a Lennon, cinturão
com fivelões,
blusões estampados, cordões,
discutindo
música e política, dançado, em risos,
distribuindo
versos? Como gostaria de vê-las,
para dizer
que aquele menino não cresceu,
só ficou
preso num corpo que envelheceu.
Francisco
Costa
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