terça-feira, 7 de maio de 2013

ORAÇÃO DE FIM DE ANO


Senhor, eis-me despido de qualquer coisa
que não a ambição de me fazer feliz
na felicidade alheia porque continuação de mim.

Sei que o mal está em nós, por isso imploro
comedimento e sensatez, se possível, prudência.

Encaminha-nos na direção da paz, livra-nos
de todas as formas de guerras, de belicosidade:
as que se estampam em armas de fogo e sangue
e as que transcorrem surdas em armas outras:
em punhais linguísticos que rasgam e sangram;
 em corações blindados, imunes a afetos e chegadas;
em mãos fechadas, das quais nunca nada sai;
em punhos cerrados, prontos ao soco, ao muque,
ao nocaute da dignidade e do amor próprio;
em  gritos intimidatórios de ameaças e humilhação.

Faz de cada momento nosso instante de lucidez.
Faz da lucidez comportamento obrigatório,
permanente, compulsoriamente obrigatório,
como a necessidade de ar e calor, de estar vivo.

Varre de cada um de nós o individualismo infantil
a nos limitar nas próprias peles e quereres,
como as nuvens que não se sabem parte do mar.

Varre em definitivo de nós esse pessimismo tonto
que nos faz esperar sempre o pior de cada um,
a  apostar no pior, certos do fracasso iminente,
como um náufrago descrente de ilhas e praias.

E se me permite uma manifestação de egoísmo,
de só pensar em mim por um minuto,
um pedido pessoal: continua me mandando versos.

Prometo continuar a transcrevê-los um a um,
às vezes bobos, falando de mim e das minhas dores,
miúdas, sem graça, passageiras como os dias,

mas quase sempre brotados da indignação,
de perceber que nós, eu e meus semelhantes,
insistimos em nos espetar mutuamente
com as flores que Você espalhou em nossos caminhos.

Amém.

Francisco Costa
Rio, 28/12/2012.

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