terça-feira, 14 de maio de 2013

O QUE NÃO FOI, NEM SERÁ (Pra Mena Lobinha, que em boa hora levantou a bola)


Poderia ter chegado em agasalhos,
Porção minúscula de carne deitada,
Erigindo-se gente  no berço.

Células-tronco em atividade, criando
Farejaria o mundo, olharia o mundo
Pronto a debutar nas manhãs de sol.

Sentar-se, segurar objetos, sorrir
E a fantástica descoberta de saber-se
Capaz do domínio de si ocupando os dias.

E o primeiro passo, inseguro, lento
Como a alertar que para sempre
Ainda que não lentos, todos os passos
Seriam inseguros, pisando o desconhecido.

O descobrir que nenhum homem é só,
Tem papai, mamãe, maninhos, titios, vovós
E o compromisso de ser mais que um
Embora  circunscrito a um corpo só.

E a chegada à escola e novas descobertas
Que letras redigidas podem matar ou não,
Traduzirem-se declarações de guerras
Ou cartinhas de amor, versos, poemas...
Que a humanidade é uma família de famílias..

E a primeira namorada, o deslumbramento
Diante de uma nova verdade:
Cada homem é só metade,
Não mais, reclamando complemento.

E o primeiro corpo nu, insaciedade
A penetrar poros, lascívia e prazer
Ostentando-se obrigatórios e para sempre.

O primeiro emprego, e nova descoberta:
Pães são trabalho materializado,
Suor posto na consecução do imediato,
Comer, beber, amar, dormir...

E filhos, o plantio da continuação
Na geração seguinte, pronta e atenta
À continuidade de respostas rápidas
Às solicitações do mundo. E amar.

E os netos, devolução compulsória
Aos tempos de outrora, ele mesmo
Brincando no tapete da sala.

E a aposentadoria, a velhice, o diploma:
Viveste  e não foi em vão.
Tuas digitais mancham o mundo,
Atestam que passaste por aqui.

Mas tudo sonho, tudo mentira.
Reduzido a só uma hipótese, coitado.
Não nasceu. Foi abortado.

Francisco Costa
Rio, 18/11/2012.

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