Poderia ter
chegado em agasalhos,
Porção
minúscula de carne deitada,
Erigindo-se
gente no berço.
Células-tronco
em atividade, criando
Farejaria o
mundo, olharia o mundo
Pronto a
debutar nas manhãs de sol.
Sentar-se,
segurar objetos, sorrir
E a
fantástica descoberta de saber-se
Capaz do
domínio de si ocupando os dias.
E o primeiro
passo, inseguro, lento
Como a
alertar que para sempre
Ainda que
não lentos, todos os passos
Seriam
inseguros, pisando o desconhecido.
O descobrir
que nenhum homem é só,
Tem papai,
mamãe, maninhos, titios, vovós
E o
compromisso de ser mais que um
Embora circunscrito a um corpo só.
E a chegada
à escola e novas descobertas
Que letras
redigidas podem matar ou não,
Traduzirem-se
declarações de guerras
Ou cartinhas
de amor, versos, poemas...
Que a
humanidade é uma família de famílias..
E a primeira
namorada, o deslumbramento
Diante de
uma nova verdade:
Cada homem é
só metade,
Não mais,
reclamando complemento.
E o primeiro
corpo nu, insaciedade
A penetrar
poros, lascívia e prazer
Ostentando-se
obrigatórios e para sempre.
O primeiro
emprego, e nova descoberta:
Pães são
trabalho materializado,
Suor posto
na consecução do imediato,
Comer,
beber, amar, dormir...
E filhos, o
plantio da continuação
Na geração
seguinte, pronta e atenta
À
continuidade de respostas rápidas
Às
solicitações do mundo. E amar.
E os netos,
devolução compulsória
Aos tempos
de outrora, ele mesmo
Brincando no
tapete da sala.
E a aposentadoria,
a velhice, o diploma:
Viveste e não foi em vão.
Tuas
digitais mancham o mundo,
Atestam que
passaste por aqui.
Mas tudo
sonho, tudo mentira.
Reduzido a
só uma hipótese, coitado.
Não nasceu.
Foi abortado.
Francisco
Costa
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