terça-feira, 7 de maio de 2013

O PREDADOR


Em um de meus aquários
há um peixe destacado:
celebração à criação,
explode em cores mil,
em tons milhões.

É como se Deus
tivesse  entornado ali
o seu estoque de purpurina e luz,
milagre a iluminar os meus olhos.

Não bastasse, nada com displicência,
em movimentos delicados e doces
que nenhum bailarino ousará.

Perco horas a admirá-lo,
como a um poema de Lorca
ou as curvas da moça na praia.

Mas ontem, absorto e extasiado
desfez-se todo o encanto
encarcerado naquelas cores.

Entre folhas e algas, perdido,
um peixinho simples, humilde,
igual a qualquer um,
vestido apenas de cinza prata
e vontade de  viver,
foi surpreendido pela majestade
posta em seu caminho,
e virou refeição.

Traumatizado pela decepção,
imaginei a inutilidade da beleza
quando máscara, só disfarce
para a violência e a predação.

Francisco Costa

Rio, 4/12/2012.

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