terça-feira, 7 de maio de 2013

O FORA ESTAVA DENTRO (Pro Leone, meu filho, um inocente pedaço de mim)


Atolado em tédio e marasmo, triste/enfadado,
percebi que era hora de procurar a felicidade,
e empreendi pernas mundo, vida afora.

Primeiro pensei  tê-la encontrado abandonada
em casinhas que nascem na beira das estradas,
entre encostas e campos, bois e olhares curiosos.
Nada.

E fui à matemática, inundei-me de números,
símbolos, postulados, teoremas, incógnitas,
e descobri que equações são poemas sem odor.
Nada.

Cabisbaixo desesperançado, fui às religiões,
cada qual com um deus mais terrível,
mais vigilante e vingador, em ameaça permanente.
Nada.

E à filosofia, codificação das nossas intempéries,
dos nossos quereres ainda não emancipados.
Nada.

Às artes, atividade dos meninos que insistem em nós;
às ciências, culto a Deus pelo avesso,
em sentido contrário porque depois de Einsten
o imediatamente à frente está em nossas costas.
Nada.

Já me pensava plantador de orquídeas
ou criador de alguma coisa meiga, dócil,
que cintilasse, e resolvi voltar para casa.

Na janela, agarrado às grades, meu filho,
o caçula, em seu sorriso mais puro,
como nuvens brancas sobre o azul.

Vendo-me, principiou a saltitar sobre as perninhas miúdas.
E então percebi, tomado de encanto,
que quase sempre o instinto fala mais que a razão:

sem saber, mandei colocar aquelas grades
justamente para a felicidade não fugir.

Francisco Costa.
Rio, 28/12/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário