terça-feira, 14 de maio de 2013

O BEIJA-FLORES


Ia o beija flor de flor em flor,
Detendo-se pouco em cada,
Porque este o seu mister,
Beijá-las rapidamente,
Antes que percebam a sua presença
E se quedem dependentes,
Criando dependência nele também.

E assim ia. Esta porque é amarela,
Quela por suculenta ou cheirosa,
Aqueloutra porque de corola farta
Ou vermelha, buscando motivos,
Motivações  para alternar-se
Entre todas que estivessem ao alcance.

Mas quis o destino que mudasse tudo,
A começar pelo próprio comportamento,
E numa manhã ensolarada, providencial,
Entre flores, como sempre,
Avistou uma diferente.

Acostumado  com tantas formas e cores
Não soube determinar motivo de diferença,
Só que era diferente, embora tão igual
A tantas outras antes visitadas.

E foi mudando,
Principiando por perder as asas,
Já que inúteis a um pássaro  fixo,
Que não queria mais voar.
Depois as cores e o brilho
Porque a vaidade bastou-se  em si,
Pela conquista da flor.

O bico se adaptou,
Perdendo a aptidão para a variedade,
E os pés encolheram,
Encaixando-se certos 
Em galho único e definitivo,
Justo o que sustentava a flor.

Mas numa manhã nublada, mal amanhecida
Percebeu que a flor secara,
Que de seu seio já não brotava o especioso néctar
Nem suas glândulas de perfume funcionavam.
Fixou o olhar e descobriu  que era só uma flor,
Como tantas outras, não mais que uma flor.

E verteu lágrimas cristalinas de desencanto e dor,
Pronto para reaprender a ser um beija flor,
Ou mais, um beija flores,
Para que a história não se repita.

Francisco Costa
Rio, 28/11/2012.

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