Ia o beija
flor de flor em flor,
Detendo-se
pouco em cada,
Porque este
o seu mister,
Beijá-las
rapidamente,
Antes que
percebam a sua presença
E se quedem
dependentes,
Criando
dependência nele também.
E assim ia.
Esta porque é amarela,
Quela por
suculenta ou cheirosa,
Aqueloutra
porque de corola farta
Ou vermelha,
buscando motivos,
Motivações para alternar-se
Entre todas
que estivessem ao alcance.
Mas quis o
destino que mudasse tudo,
A começar
pelo próprio comportamento,
E numa manhã
ensolarada, providencial,
Entre
flores, como sempre,
Avistou uma
diferente.
Acostumado com tantas formas e cores
Não soube
determinar motivo de diferença,
Só que era
diferente, embora tão igual
A tantas
outras antes visitadas.
E foi
mudando,
Principiando
por perder as asas,
Já que
inúteis a um pássaro fixo,
Que não
queria mais voar.
Depois as
cores e o brilho
Porque a
vaidade bastou-se em si,
Pela
conquista da flor.
O bico se
adaptou,
Perdendo a
aptidão para a variedade,
E os pés
encolheram,
Encaixando-se
certos
Em galho
único e definitivo,
Justo o que
sustentava a flor.
Mas numa
manhã nublada, mal amanhecida
Percebeu que
a flor secara,
Que de seu
seio já não brotava o especioso néctar
Nem suas
glândulas de perfume funcionavam.
Fixou o olhar
e descobriu que era só uma flor,
Como tantas
outras, não mais que uma flor.
E verteu
lágrimas cristalinas de desencanto e dor,
Pronto para
reaprender a ser um beija flor,
Ou mais, um
beija flores,
Para que a
história não se repita.
Francisco
Costa
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