terça-feira, 14 de maio de 2013

NOSSAS CASAS


Na minha casa às vezes faz sol,
Às vezes nubla ou faz chuva.
Na sua é sempre apartamento
E nada muda com as estações.

Pela manhã sanhaços e sabiás
Anunciam uma nova jornada
Entre flores e colibris baldios
Fazendo revoada na varanda.

Na sua casa, se pássaros houvesse,
Estranhos piariam tristes na gaiola,
Plagiando os pios dos seus filhos
Pousados diante do televisor
Ou presos no visgo do computador.

Aqui venta e tudo é natural e simples,
Sem a necessidade de interruptores
Regulando o balançar das cortinas
Fingindo-se árvores e relvas.

Minhas janelas se abrem para o mundo.
E suas implicações multicores, poliformes
Desfilando nas minhas retinas enamoradas
Põem-me em comunhão com o universo.

E por elas chegam sempre visitas,
Algumas conhecidas, outras, inusitadas:
Odores, besouros, trinados, movimentos
Convidando-me aos versos...

As suas delimitam a área do vizinho,
São portais de roncos, arranhares e ruídos
Entupindo os tímpanos e impedindo
Qualquer possibilidade de harmonia.

São motos, automóveis, gritos
Carros de som, britadeiras
Soando instrumentos infernais
Numa orquestra ensandecida.

Pra você a minha casa é um inferno
Feito de paz e contemplação.
Pra mim teu apartamento chora.

Francisco Costa

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