No Roteiro Do Teu Corpo
Como eu
gostaria de percorrê-la inteira.
Tocá-la em
cada canto e recanto, ávido,
pudoradamente
alisando-lhe os cabelos
o rosto, a
principiar pela testa, descendo,
cerrando
pálpebras num toque sutil e doce,
até chegar
aos lábios com o indicador, suave,
permitindo
delicadas, molhadas mordidas.
E lembrar
que existem orelhas, lóbulos,
sinuosidades,
saliências e reentrâncias
prontas ao
toque, prestes à doação,
e me iniciar
na experimentação de alisares,
sutis
beliscares, ordenhas imaginárias
no que se
mostra afeito a mãos e língua.
E chegar ao
pescoço, contido, comedido,
para que as
digitais do meu desejo não fiquem
tatuadas em
vermelho, anunciando amares.
E descobrir
a nuca, anatomicamente esculpida
para a
recepção de beijos, mordidelas, gemidos.
E chegar aos
ombros, morder, agora mais solto,
sem o
comedimento de antes porque já tonto,
inebriado no
arfar descompassado do momento.
E descobrir
braços, mãos, dedos, cotovelos
não menos
convidativos em dádiva na noite.
E colocá-la
em decúbito, dorso exposto ao vento,
e percorrer
a planície quente das suas costas,
guiado nas
saliências das vértebras que ostenta nua,
e chegar às
nádegas, insonhado solo onde me deito,
iniciando
com beijos e leves mordidas, anestesiando,
preparando-as
para a minha voracidade de predador
mastigando-as
em ímpeto de arrancar nacos, pedaços.
E caminhar
coxas com os lábios, mordiscando distraído,
para pousar
a seus pés, tendões e arrepios consumados.
Empurrá-la
levemente pelos quadris, em solicitude
de vire-se e
permita-se, e reiniciar a escalada.
Morder joelhos porque isso é fundamental e urgente,
e me
anunciar onde me aguardas, úmida e quente,
sem que eu
fique, para mais esperares deixar postos.
Vencer a
tentação e prosseguir. Baldear-me no umbigo,
cicatriz de
chegada, carimbo de eu estou aqui, pronta,
e beijar e
beijar e beijar, até lembrar-me dos seios,
relevo de
carne e desejo a estabelecer nossas diferenças,
e que se
completam neste estranho orquestrar noturno
de
murmúrios, chios, gemidos, sorrisos, arfares e cios.
Tocá-los até
que se mostrem prontos a uma erupção
de sonhos e
cores amanhecidas do meu encanto menino
em retorno
ao ontem que se faz eterno e permanente,
como uma
galáxia distante posta ao meu alcance, agora.
E retomar a
descida, agora em definitivo, para ficar,
e prestar
culto à mais flor de toda a flora universal:
quatro
pétalas de carne e encanto e um estame nervoso
temperamental,
latejando como latejam as estrelas
na volúpia
das noites em que, sozinho, navego no mar
dessas
lembranças.
Francisco
Costa
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