segunda-feira, 6 de maio de 2013

No Roteiro Do Teu Corpo

No Roteiro Do Teu Corpo
Como eu gostaria de percorrê-la inteira.
Tocá-la em cada canto e recanto, ávido,
pudoradamente alisando-lhe os cabelos
o rosto, a principiar pela testa, descendo,
cerrando pálpebras num toque sutil  e doce,
até chegar aos lábios com o indicador, suave,
permitindo delicadas, molhadas mordidas.

E lembrar que existem orelhas, lóbulos,
sinuosidades, saliências e reentrâncias
prontas ao toque, prestes à doação,
e me iniciar na experimentação de alisares,
sutis beliscares, ordenhas imaginárias
no que se mostra afeito a mãos e língua.

E chegar ao pescoço, contido, comedido,
para que as digitais do meu desejo não fiquem
tatuadas em vermelho, anunciando amares.

E descobrir a nuca, anatomicamente esculpida
para a recepção de beijos, mordidelas, gemidos.

E chegar aos ombros, morder, agora mais solto,
sem o comedimento de antes porque já tonto,
inebriado no arfar descompassado do momento.

E descobrir braços, mãos, dedos, cotovelos
não menos convidativos em dádiva na noite.

E colocá-la em decúbito, dorso exposto ao vento,
e percorrer a planície quente das suas costas,
guiado nas saliências das vértebras que ostenta nua,
e chegar às nádegas, insonhado solo onde me deito,
iniciando com beijos e leves mordidas, anestesiando,
preparando-as para a minha voracidade de predador
mastigando-as em ímpeto de arrancar nacos, pedaços.

E caminhar coxas com os lábios, mordiscando distraído,
para pousar a seus pés, tendões e arrepios consumados.

Empurrá-la levemente pelos quadris, em solicitude
de vire-se e permita-se,  e reiniciar a escalada.

Morder  joelhos porque isso é fundamental e urgente,
e me anunciar onde me aguardas, úmida e quente,
sem que eu fique, para mais esperares deixar postos.

Vencer a tentação e prosseguir. Baldear-me no umbigo,
cicatriz de chegada, carimbo de eu estou aqui, pronta,
e beijar e beijar e beijar, até lembrar-me dos seios,
relevo de carne e desejo a estabelecer nossas diferenças,
e que se completam neste estranho orquestrar noturno
de murmúrios, chios, gemidos, sorrisos, arfares e cios.

Tocá-los até que se mostrem prontos a uma erupção
de sonhos e cores amanhecidas do meu encanto menino
em retorno ao ontem que se faz eterno e permanente,
como uma galáxia distante posta ao meu alcance, agora.

E retomar a descida, agora em definitivo, para ficar,
e prestar culto à mais flor de toda a flora universal:
quatro pétalas de carne e encanto e um estame nervoso
temperamental, latejando como latejam as estrelas
na volúpia das noites em que, sozinho, navego no mar
dessas lembranças.

Francisco Costa
Rio, 02/01/2013.

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